quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Programa de Graça araújo : Como tratar a dor

amigos, segunda-feira - dia 28, participei no programa: Consultório da Graça na rádio jornal. Um debate sobre tratamento da dor. Vejam o áudio:

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A mulher que engravidou de um abacaxí

            
Foto: Tiago Barbosa
                Era o ano de 1998, estudava em Campina Grande, na minha querida Paraíba. Comecei a fazer parte de um projeto de pesquisa bastante interessante, vinculado ao CNPq, sob orientação daquela que foi, é um divisor de águas em minha vida, professora Norma Montalvo de Soler.           
                Propomo-nos a investigar sobre a Saúde Humana e Ambiental de Pequenos Produtores Rurais do Semi-árido Paraibano. Eu e meu grande amigo Issac Newton, além de um grupo de estudantes da sociologia e educação, passamos um mês inteiro entre as cidades de Pedra lavrada e Nova Palmeira, em pesquisa de campo.
               A professora era a timoneira dessa turma que estava acampada em uma casa, com tarefas e afazeres domésticos divididos. Não sei por que, o pessoal de humanas, achava que eu e Isaac éramos os queridinhos da professora. Na verdade, éramos, mais ele do que eu, estranhos no ninho da Sociologia. No fantástico, para mim, ninho da sociologia.
               Saíamos cedo de casa diariamente. Inicialmente, percorremos toda área rural de Pedra Lavrada mapeando casa por casa. Em seguida, iniciamos a fase de colheita de dados, visitando família por família. Algumas faziam festa, outras eram indiferentes à nós e outras, corriam com a gente de suas casas. Algumas coisas ficaram marcadas: Sanduíche de atum, suco de manga e sombra de umbuzeiro.
               Certo dia, chegamos à casa de uma jovem de aproximadamente 30 anos de idade que chamarei de Maria Santa. Fomos cordialmente recebidos. Iniciamos a aplicação do questionário:
               - D. Santa quantas pessoas moram nesta casa?
               - Óia, mora eu, pai e esse menino ( apontando para um garoto de aproximadamente 10 anos de idade).
              - De quem é esse menino?
              -Óia, esse menino é meu.
              - A senhora é casada?
              - Sô não sinhô.
              - Separada?
              - Não sinhô
              - E esse menino?
              - Óia, esse menino me queixo d’um abacaxi que comi.
              - Como?!?!?!?!?!?!? ( em voz alta, indagamos todos a único tempo)
              - Isso mermo, seu dotô. Esse menino me quexo d’um abacaxi que me fez mal.
              Silêncio no ambiente, olhares cruzados e a dúvida: Estará essa jovem senhora zombando de nossa pesquisa? Caçoando desses aprendizes de pesquisadores? Tirando onda com nossa cara?
             - Calma, falei com voz compassada e gestos com as duas mãos.
            - A senhora conheceu homem com que idade?
            - Nunca conheci homi não sinhô. Sô limpa.( Em voz autiva e firme)
             - A senhora nunca teve momentos mais íntimos com um homem?
            - Não, sinhô. Num tô dizeno ( aumentando o tom de voz e frangindo a testa)
            - Háááááá!!!!
            - A senhora adotou esse menino, não foi?
            - Óia, o senhô é dóido ou se faz? Já num dixe que esse menino é meu.
            E agora? Perguntávamos uns aos outros diante dessa inusitada situação. Como iria constar esse dado no relatório final da pesquisa? Um membro de uma família filho de um abacaxi.
           Respira-se fundo e tenta-se por outro caminho descobrir a verdadeira identidade desse “abacaxi”. Pense num abacaxi que pegamos?
             - A senhora vai sempre à feira na cidade?
             - Não sinhô, tá pra mais de 10 anos que num vô.
             - Esse tempo todo a senhora não saiu daqui?
             - Não sinhô. Num me lembro de tê saído dessas bandas, não.
             - A senhora votou em quem para presidente?
             - Votei não, sinhô
            - Sabe quem é Fernado Henrrique Cardoso?
            - Conheço não, sinhô. Óia, acho que num é dessas bandas de cá não, viu!
           - E Xuxa?
           - Qué que tem?
          - A senhora gosta?
          - Óia, nunca comi não, visse!
            Nesse momento, dirigi-me a Isaac e comentei. Essa estória ta criando forma. Esse menino pode ser de um abacaxi, mesmo.
Continuamos em busca da identidade secreta do pseudo fruto.
            - D. Santa, veja bem. Nunca nenhum homem chegou nem perto da senhora?
            - Óia, o povo daqui diz que esse menino é de Zé de Antoin do baxí grande. Mas eu mermo digo que num é não. Ele tem inté umas aparência com Zé, mas né não, menino. Se fosse eu já sabia, oxe!
             - A senhora nunca ‘brincou” com Zé? ( Me atrevi)
             - Óia, gosto de inxirimento, não visse. Pra num dizê, tinha vez que, quando eu ia dêxar o cumê de pai na roça, Zé acumpanhava eu. Vinha c’umas lorotas besta, mas eu num tava nem aí. Mas teve vez que Zé perdeu a paciência com eu, me deitô nas capuera e fez inxirimento com eu. Mas vô logo dizeno que num foi isso não, por que meu bucho começou a crescer depois que comi um abacaxi quente do sol, que pai trove da fêra. Isso já fazia quaje 3 mês que Zé num via eu. Foi Zé não, menino. Já dixe a pai, foi àquele abacaxi.
            E então, caro leitor? O menino é de quem?
            Diga aí?

Para: Professora Norma Montalvo de Soler e Isaac Newton
Júlio Lima
Médico/ Professor