terça-feira, 28 de junho de 2011

OS PARADÍGMAS DE UM CHEFE


A palavra chefe deriva do francês chieef, que por sua vez tem sua origem do latim caput,ítis = cabeça, parte superior.
            Muitas são as maneiras pelas quais os chefes são conhecidos: cabeça, cabo, capitão, condutor, diretor, dirigente, general, guia, líder, mentor, principal, e por aí vai...
            Você escolhe ser chefe ou é recrutado a sê-lo? O chefe necessariamente possui a mesma ideologia de sua empresa?
            Características individuais de liderança, organização, conhecimento técnico profundo, empreendedorismo são suficientes para tornar alguém um bom comandante?
            O humor, por exemplo, é necessário a um líder? Muitas vezes, observamos alguns diretores amáveis, leves, bem humorados; outras, observa-se alguns que possuem um “humor” tão afiado quanto um esmeril de pedreira, daqueles que só quem consegue rir de seus comentários é ele e seus comandados puxa-sacos mais próximos (desses falarei em texto futuro – os paradigmas do puxa-saco).
            Há diversas formas de adquirir respeito e motivação para o trabalho pelos comandados: Pela força (tirania, perseguição, intimidação), pelo exemplo (cobra do outro o que ele pratica), pela coerência ( não generaliza, não favorece, não acossa), pela Justiça ( ninguém espera que um chefe seja bom; se não, justo).
            Viver sobre a égide de um tirano dói o corpo e a alma, causa depressão, impotência, hipertensão, diabetes... O sujeito que persegue geralmente o faz no intuito de encobrir, esconder suas limitações e fraquezas; e ainda, sua incompetência, sendo geralmente capacho e subserviente de seu superior.
            Àquele que intimida traz impregnado em seu DNA o gen da covardia.
            Ser trabalhador, gostar do que faz, conhecer o trabalho e seus comandados, ser exigente com coerência, reconhecendo as limitações de cada um, procurando estimular as qualidades individuais; saber posicionar-se com firmeza, com gentileza, com seriedade e com afeto faz brotar nos convives de trabalho um senso de responsabilidade e vontade de acertar. Faz o funcionário sentir-se parte de uma engrenagem que necessita de sua força; ou paciência; ou inteligência; ou sensibilidade; ou destreza. Atribuições pessoais que só gerará bom resultado, caso o trabalho seja realizado em equipe, com valorização de todos, pois não acredito que alguém consiga deter todas àquelas qualidades sozinhas.
            Imaginar um mentor que não possua inteligência emocional deveria ser um absurdo, pois acredito que faz parte das qualidades básicas de um superior. Pena que não é e, mais pena ainda, é que a maioria dos cabeças não sentem essa necessidade para o seu dia-a dia.
            Manter-se coerente não é tarefa fácil. Os vários funcionários de um mesmo setor não produzem de maneira uniforme. A motivação, a criatividade, o esforço, a tolerância, o conhecimento técnico não são iguais e isso deve ser considerado pelo comandante, não para dar privilégios, mas para resgatar, estimular e fortalecer os menos hábeis. De outra forma, colocar o preguiçoso, o indisponível, o limitado no mesmo balaio do esforçado, do paciente, do que tem iniciativa poderá gerar insatisfações e queda na qualidade do trabalho. Cuidado maior se deve ter para não tratar os iguais de forma diferente, gerando injustiças.
            Da mesma forma que nenhum bom funcionário espera que um chefe seja bom; e sim que ele seja justo, cabe ao mentor não esperar ou exigir que o comandado seja submisso, subserviente, sem opiniões próprias.
            Um chefe não pode ter medo da contestação, da sabatina, da contra-argumentação.
            Humildade através do reconhecimento de suas limitações torna o homem sábio e forte.
            Um bom timoneiro não procura glórias individuais. Ele deve reconhecer que seu sucesso é resultado de um trabalho de todos. Querer a glória sozinho minará sua liderança e o tornará em um rei solitário.  

Júlio Lima
Médico/professor

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Para começar o dia


SENHOR,
Ajuda- me a escolher a verdade diante dos fortes,
e não escolher mentiras para ganhar o aplauso dos fracos.
se me deres fortuna, não me tire a razão.
se me deres êxito, não me tire a humildade.
se me deres humildade, não me tire a dignidade.
ajuda-me sempre a ver a outra face da moeda. Não me deixe acusar de
traição os demais por não pensar como eu.
ensina-me a amar as pessoas como a ti mesmo e a não julgar-me como aos demais.
Não me deixe cair em orgulho se triunfar,
nem em desespero se fracassar.
mas, lembre-me que o fracasso é a experiência que precede o triunfo.
Mahatma Gandhi – Líder Religioso Indiano

terça-feira, 14 de junho de 2011

Repeitem nossos valores - e cabelos, por Henrrique França

Amigos, faço minhas as palavras de Henrrique França. Comu
   [@RiqueFranca]

               Francisco César Gonçalves é um sertanejo destemido e
sensível. O cara cresceu no burburinho cultural brasileiro-nordestino,
tornou-se um irreverente e talentoso cantor, encantou o mundo com suas
canções e acabou na vida administrativa. Hoje, secretário de Cultura
da Paraíba, Chico César mostra que, apesar das assinaturas e
burocracia necessárias ao cargo que exerce, permanece um dom Quixote
da cultura do Nordeste, sua terra, sua gente, seu valor.


               Negro, de família humilde, sertaneja, fora dos padrões
emburrecidos de “beleza”, Chico tem na palavra sua espada. E com ela
vence batalhas, apesar de fazê-lo diante da impossibilidade de ferir
um ou outro. Esses dias, o nome de Chico César voltou a provocar
reações positivas e negativas, depois que o secretário declarou que
grupos musicais que destoantes da tradição musical nordestina – as
bandas de forró de plástico ou as duplas sertanejas
– não serão
contratados pelo Governo da Paraíba para a programação do São João
local.

               Com a polêmica nos principais sites de notícias da
Paraíba e do Brasil, com seu nome entre os dez assuntos mais
comentados do twitter, Chico César foi vítima e vilão, ganhou mais
respeito por alguns e insultos por outros. E, pasmem, ganhou um bom
número de internautas que declararam sequer conhecer esse “tal Chico
César”! Os argumentos contrários à declaração do cantor se baseiam na
vontade popular: se o povo gosta, dê a ele todo lixo em forma de
canção, dancinhas e gritinhos.

               O argumento é frágil e pouco convincente. Se assim
fosse, que tal ampliarmos a discussão para outras áreas. Se o povo
gosta de fumar, libera o cigarro; se o povo gosta de acelerar, libera
essa besteira de limite de velocidade nas ruas; se há pais que não
acham necessário matricular seus filhos em uma escola (melhor levá-los
para pedir um trocado nos semáforos), deixe que eles, como pais
decidam. Parece exagero? Sim, mas não é. A música é, sim, um
instrumento de mudança social. Aliás, qualquer forma de arte possui
essa capacidade.

               Então, quando eu relego a décimo plano uma música que
nos identifica como povo, que fala a língua do Nordeste, que nos
remete a memórias ancestrais dos nosso pais, avós, que valoriza as
pessoas, as relações, mesmo os embates históricos, as lembranças de
uma trajetória nordestina – seja cantando um pássaro ou um lamento do
homem sertanejo, seja narrando o despertar da adolescência da menina
do interior ou uma disputa engraçada de embolada -, estou lançando
toda essa carga de história aos resíduos memoriais.

               Não, não se trata de alienação ou de direcionamento do
que eu devo ou não ouvir. Trata-se, sim, de respeitar o povo a quem
ele – Chico César – serve. Caso contrário, há quem concorde em pagar
caro por artistas que elevem em suas canções o machismo exacerbado, o
xingamento gratuito, a insinuação de pedofilia, a exposição de
mulheres como pedaços de carne rebolando sobre um palco, sendo
desejadas de forma tão obscena que se torna vergonhoso por se dar em
espaço público, que traz em suas letras refrões do tipo “vem molhar o
meu corpo, quero ver se vai resistir o que tenho aqui”, “o meu bolso é
minha guia, a bebida é a razão”, “eu juro não vou sossegar - se você
não me der, desculpa, eu vou roubar”? Tem mais: “Vai começando na
cabeça/ Vai descendo pro queixinho/ Menina gostosinha, eu sou o seu
neguinho/ Alisando, alisando, esse lindo umbiguinho/ Se você não
aguenta fale assim pra mim: Ai painho, a-a-ai painho.”

               Atenção, críticos e suas metralhadoras giratórias. É
isso que vocês estão defendendo? Não se trata, aqui, simplesmente de
arte. Trata-se de comportamento, respeito, o mínimo de coerência.
Porque quando um “painho” estupra a própria filha ficamos todos
revoltados. Porém, quando um “artista” canta isso, insere uma voz de
criança para cantar “a-a-ai painho” ninguém se constrange ou se
indigna? É isso mesmo? Chico César é um artista que está secretário.
Não cabe aqui avaliar sua atuação administrativa, mas esse é o mesmo
homem que escreveu, na canção-desabafo “Odeio Rodeio”: Me tira a
calma, me fere a alma, me corta o coração. É bom pro mercado de disco
e de gato, laranja e trator / Mas quem corta a cana não pega na grana,
não vê nem a cor.

               Palavras de Chico, como secretário: “Nunca nos passou
pela cabeça proibir ou sugerir a proibição de quaisquer tendências.
Quem quiser tê-los que os pague, apenas isso. São muitas as
distorções, admitamos. Não faz muito tempo vaiaram Sivuca em festa
junina paga com dinheiro público aqui na Paraíba porque ele, já
velhinho, tocava sanfona em vez de teclado e não tinha moças seminuas
dançando em seu palco. Vaias também recebeu Geraldo Azevedo porque ele
cantava Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro em festa junina financiada
pelo governo aqui na Paraíba, enquanto o público, esperando a dupla
sertaneja, gritava "Zezé cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".”

               Dizem que Chico César está sendo intolerante. Talvez
devêssemos nós, como “baluartes” da dignidade, nos colocarmos de forma
a não tolerar mais certas manifestações “culturais” que nos enfiam
goela abaixo valores distorcidos em forma de canções “divertidas”. Não
sou preto na pele, não sou musicalmente talentoso como nosso
secretário de Cultura, mas aproveito alguns poucos fios de cabelo que
agrisalham minha cabeça para cantar com Chico:


Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Com veludo nos tamancos.

[Texto publicado na coluna #CotidianaMente, do Jornal A União, em 20/04/2011]