domingo, 25 de setembro de 2011

A beleza da Ortopedia

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DESCONFIO

                
                Hoje, deparei-me com um desses textos atribuídos a gente famosa. Sim, digo isso por que se não lê-lo no livro do autor, não tenho a certeza da sua autoria. “Como diz Alceu: eu desconfio dos cabelos longos de sua cabeça que você deixou crescer de um ano prá cá”, desconfio da beleza estampada na capa da revista, do sabor do bolo de prateleira, da inocência da menina, da voz que jura amor, do "pastor" que cura e batiza.
                  Desconfio das linhas polares, dos raios solares e seus efeitos, da prata azul da lua, da estrela de pouca luz, do rio que seca fácil, da chuva que molha e nem poça faz.
                  Desconfio do sujeito de voz mansa, do calado demais, do sonso, nem se fala, do “caba” que só agrada e não contradiz. Desconfio do sim sem por quê? Do não sem dizer, do talvez sem nem saber.
                 Desconfio da esmola aumentada, da mercadoria muito em conta, da amizade pegajosa, do menino de bucho cheio demais, da fruta mal lavada, da carne mal passada, do azeite de bar e do gás da cozinha.
                Desconfio do telefone que na madrugada toca, do confeito de porta de escola, de mulher apaixonada, de homem que nada tem e nem tem nada pra perder, do pano comprado na feira, do pão feito depois do “esporro” do patrão, da mala com segredo e do peito grande demais.
                Desconfio de mim, na hora do sono e da fome, depois de três doses ou mais, corro o risco de dizer o que penso, nem sempre o que quero, muito menos o que devo. Desconfio quando “tô arretado”, quando sou injuriado ou quando querem me tomar. Não agrado defunto ruim, nem choro em velório de ditador, não faço graça pra doutor e vomito no arrogante, no pedante e no babão.
               Na desconfiança traço linhas, traço curvas, subo ladeira e desço rio. Consumo o que posso, sem esperar por gentileza ou caridade de ninguém. Terço verso, faço oração, busco remissão do mau feito sem querer. Diante do altar me redimo, me confesso e peço perdão. Na fé marcada em mim, desconfio que busco adjetivos que me tragam paz a alma e alegria no estradar: verdade, lealdade e amizade, ade, ade, ade... O substantivo do amor com a força do verbo amar.
              Desconfio que, matutinho João griliano que sou, gasto a vida que ganhei de vagarzinho, sem pressa, sem agonia, pedaço por pedaço, cuidando, lustrando pra brilhar, pra durar, sabendo que felicidade não se busca, se tem. E desconfio mais, de que você que está lendo também deve desconfiar, morder de mansinho e até lamber, a vida que Deus te deu e que você tem que cuidar.
Júlio Lima
Médico/Professor