quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

3 MINUTOS COM BAUMAN: AS AMIZADES DE FACEBOOK


Sociólogo polonês preocupado em compreender a sociedade pós-moderna, Zygmunt Bauman, 87 anos, autor de vários livros em que explica as relações sociais na contemporaneidade, comenta em 3 minutos, em uma de suas conferências que foi concedida para o Fronteiras do Pensamento, porquê nossas relações de amizade no facebook são tão atrativas, fáceis e superficiais.


Leia o trecho:
"Um viciado em facebook me confessou - não confessou, mas de fato gabou-se - que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi: eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso! Então, provavelmente, quando ele diz 'amigo', e eu digo 'amigo', não queremos dizer a mesma coisa, são coisas diferentes. Quando eu era jovem, eu não tinha o conceito de redes, eu tinha o conceito de laços humanos, comunidades... esse tipo de coisa, mas não de redes.
Qual a diferença entre comunidade e rede?
A comunidade precede você. Você nasce em uma comunidade. De outro lado temos a rede, o que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: conectar e desconectar.


Eu penso que a atratividade desse novo tipo de amizade, o tipo de amizade de facebook, como eu a chamo, está exatamente aí: que é tão fácil de desconectar. É fácil conectar e fazer amigos, mas o maior atrativo é a facilidade de se desconectar.
Imagine que o que você tem não são amigos online, conexões online, compartilhamento online, mas conexões off-line, conexões reais, frente a frente, corpo a corpo, olho no olho. Assim, romper relações é sempre um evento muito traumático, você tem que encontrar desculpas, tem que se explicar, tem que mentir com frequência, e, mesmo assim, você não se sente seguro, porque seu parceiro diz que você não têm direitos, que você é sujo etc., é difícil.
Na internet é tão fácil, você só pressiona "delete" e pronto, em vez de 500 amigos, você terá 499, mas isso será apenas temporário, porque amanhã você terá outros 500, e isso mina os laços humanos."

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O avesso, do avesso, do avesso

Imagem colhida na internet
Ultimamente ando tendo a impressão que estamos vivendo no estadio da desorganização universal da moral.
Desde as manifestações do verão de 2013, sinto na pele, pelo fato de ser médico, o apedrejamento político e social de minha categoria.
No entanto, alargando um pouco mais o campo de visão, além do meu umbigo ferido, estou convencido que apenas somos a "bola de vez", nada mais.
Respeitando a importância das demais profissões, acredito que o país funciona sobre quatro pilares profissionais: os agentes sociais, os profissionais da educação, os responsáveis pela segurança pública e os agentes da saúde.
Se olharmos pela janela da nossa recente história, observamos que em um passado não longínquo, possuíamos uma educação pública que se destacava, pois servia a classe dominante. Quantos de minha geração não tivemos um bom professor que relatara sua origem acadêmica na escola pública, assim como, do valor social que possuía um educador?
No instante que a educação teve que ser estendida para todas as classes sociais, por pressão do desenvolvimento externo, iniciou-se um completo desmantelamento nas escolas e desvalorização profissional do professor que se percebe, desde então, despido e desamparado pelo Estado.
Na política, dá-se início a um jogo de empurras, demagogias, discursos hipócritas e promessas vazias em nome da Educação. Essa queda ladeira a baixo deixa o professor vazio de prestígio social e ridícula remuneração salarial. Como se diz no popular, além da queda o coice. Os nossos mestres ainda acumularam a obrigação de oferecerem educação doméstica aos alunos, pois os pais, na maioria ausentes de seus lares na maior parte do dia, não impõem mínimo limite às suas crias para um convívio social minimamente aceitável e ainda cobram esse serviço da escola, seja ela pública ou privada, nesse caso.
Não distante de semelhante realidade estão os agentes sociais. Na universidade, as ciências humanas não possuem o mesmo ‘glamour” de outras áreas de conhecimento, nem tão pouco, recebem o mesmo carinho em incentivo e estrutura. Os profissionais dessa área, assim como o professor, o policial e o médico que atuam na ponta do sistema, absorvem toda gama de revolta e desestrutura individual, familiar e profissional do cidadão comum por sua invisibilidade pelo Estado.
Assim como os demais, o agente social (Sociólogos, Assistentes Sociais, Psicólogos, etc.) sofre com o desprestígio e baixos salários, além de trabalharem sobrecarregados por uma demanda crescente de uma população órfã da presença do poder público. Diariamente trabalham desarmando ou tentando desarmar verdadeiras bombas prestes à explosão. Não conseguem fazer-se ouvir ou ser enxergada a sua angústia do exercício limite de sua profissão, pois trabalham com serem invisíveis aos olhos dos que, de fato, tomam as decisões sobre as políticas públicas a serem executadas.
A segurança Pública é, no meu entender, um adequador das relações entre os cidadãos e na sociedade de forma geral, assim como a Medicina é quardiã da promoção a saúde e bem estar, e prevenção e recuperação das doenças sofridas por este mesmo cidadão, sendo por tanto, a segurança e a saúde bens “se ne qua nons” para que a engrenagem social de fato funcione.
Seguidas vezes nos últimos anos, presenciamos nos jornais matinais, vespertinos e noturnos notícias e fatos que denigrem a imagem dos policiais e médicos.
Numa narrativa nem sempre amistosa e descrições de estórias quase sempre tratadas de forma unilateral, tornamo-nos expectadores de uma campanha imoral financiada principalmente pelo governo, haja vista as ações do mesmo nessas áreas, e endossada por uma imprensa que insiste em tentar passar uma imagem de que é livre, mas que nos parece depender, e muito, da ajuda e/ou parceria do governo central, estadual ou local.
As políticas públicas na área de segurança tem se mostrado ineficiente no condizente a repressão e recuperação do infrator comum que, muitas vezes, acabam nos presídios, verdadeiras universidades do crime, por questões banais aonde o infrator poderia ser inserido em programas específicos, caso existissem. Ou de outra forma, recolocam-no na rua para a reincidência contínua sem nenhuma punição.  Há uma perversidade com o homem comum e com o profissional militar ou civil que se encontra no outro extremo das decisões.
O desvirtuamento moral com defesa por seguimentos diferentes da sociedade de bandidos políticos corruptos condenados, grupos que se intitulam justiceiros e  outros de marginais que praticam “pequenos furtos”, estes defendidos por políticos e entidades que mais procuram holofotes e autopromoção sobre a desgraça desse “pequeno marginal” do que com uma política e propostas que mudem suas realidades tem gerado um estado de caos social e de verdadeira barbárie em nossas cidades.
O policial trabalha com uma sensação de chuva no molhado, além de sofrer desprestígio social, má remuneração, estar mal equipado e submetido a condições extremas de estresse cotidiano ( mesmas condições dos demais citados), ainda recai sobre si toda sorte de culpa e crítica da imprensa que, vendendo verdades superficiais sem nunca buscar a ponta do novelo, acaba por influenciar o cidadão comum a ter a crítica fácil na ponta de sua língua.
Esse desmantelamento de Agentes Sociais, Professores e Policiais não é fato recente e vem acontecendo nos governos independentemente de sigla partidária e ideologia política. Como diz minha amiga Mazé: Políticos não se arranham. Não nos iludamos, jogam todos no mesmo time, o deles.
Pois bem, o atual governo decidiu trazer para si a tarefa da derrubada do último dos pilares da coluna de sustentação social no meu entendimento – os profissionais Médicos.
A aproximação ideológica com o regime de exceção da ilha da América Central e a sua condição falida fez surgir à necessidade de justificativa, pelo governo, para evasão de divisas nacionais para o financiamento e manutenção da ditadura. Combinado coincidentemente com a quase única matéria prima de exportação dos irmãos Castros, médicos, fez com que ainda no início desse governo, o povo brasileiro fosse contemplado com doses diárias televisivas de estórias mau-contadas sobre os médicos e o exercício da medicina no Brasil.
Ali está sendo gerado o embrião para o  que vínhamos mais tarde a conhecer como o plano de governo para a saúde no Brasil.
Aproveitando-se do calor das manifestações de Junho/13, o governo apressa-se para realizar o parto a fórceps do seu plano para ajuda a ditadura da ilha e desmantelamento da profissão médica. Promove através de publicidade milionária e em parceria com os empresários da comunicação um verdadeiro desmonte de uma categoria profissional, assim com já havia acontecido em outras circunstancias com outras categorias, como as já citadas e outras, tais como, os bancários que também sofreram o mesmo desmonte pelos donos do capital financeiro sob a batuta dos governos.
A corrupção, ineficiência e ausência do Estado colocam os profissionais que estão na ponta do Sistema como muro de lamentações e pancadas pelos cegos, desassistidos e analfabetos funcionais. Vivemos o avesso da história, da moral e da ética. Estamos marchando na contramão do mundo, sem norte, sem rumo.
Júlio Lima
Médico/Professor