terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sebastião Ferreira



terça-feira, 1 de setembro de 2015

Em que crise vivemos?

Imagem extraída da internet
Quando era criança, ouvi muitas vezes minha mãe dizer: Posso não saber por que estou lhe batendo, mas com certeza, você sabe por que está apanhando. Alguém saberia me dizer por que o brasileiro está apanhando tanto? Qual foi a trela dessa vez? Quero brincar disso mais não, oxeee. Tô cansado. Como faço para sair disso?
            Isso mesmo. Qual a saída? Alguém aí sabe? Dizem que no Brasil existem 240 milhões de técnicos de futebol. Quantos são os sabidos em economia? Em gestão pública? Em estratégia de negócios? Em fórmulas mágicas para enfretamento de crises? Em lições de casa? Quantos são os que ainda não perderam o brio, a vergonha, a moral e a capacidade de se indignar diante do absurdo, do mal feito e do inescrupuloso e doentio jeitinho brasileiro?
            Acostumamo-nos sempre reclamar em atacado e sermos tolerantes, coniventes, ou até, atores quando a imoralidade é no varejo.  Levar vantagem é a ordem do dia, é a meta a ser seguida. Comprar um bem, contratar um serviço, fazer uma consulta em qualquer área do conhecimento tornou-se uma jogada de dados, aonde o sujeito tem apenas uma chance, dentre muitos procurados, de encontrar honestidade. Muitas são as possibilidades de que se encontre alguém que deseja fazer do outro, a presa do dia, a carne fresca, a refeição farta e fácil, seu meio de vida.
            Por onde andarás Dona Gentileza? O Sr. Respeito? A Sra. Educação doméstica? Dona gratidão? Será que de tanto desgosto morreram? Ouvi até dizer que com a tristeza e desgosto que lhes tomaram, encontram-se internados na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e em estado muito grave.
            Filhos desrespeitando pais e mães por reflexo do desrespeito que recebem com suas ausências e desamor ou “amor” material adquirido na grife mais próxima. Jovens se agredindo mutuamente, nóiados de tanta lombra, invisíveis aos olhos do Estado, vorazes e perversos contra quem não pertence a sua tribo.
Adultos infelizes com a profissão, com o (a) parceiro (a), com o salário, com o ambiente de trabalho, com a insegurança nas ruas, em sua casa. Escravos em sua grande maioria, escravos dos desejos não consumados, escravos dos poderes não detidos, dos objetivos não alcançados, dos bens não acumulados, dos olhares dos demais, em fim, escravos de si mesmos, mas principalmente, escravos dos bossais que n’uma jogada de ficha, n’um lance de cartas no mercado financeiro causam avalanche de terror, angústia, ansiedade, depressão, frustração em gotas diárias em sua vida. Sua vida? Sua? A quem você acha que pertencem seus melhores anos? Quem controla o humor que você estará quando encontrar os seus ou os amigos nos três períodos do dia? Por acaso, já paraste para tomar um café pensando nisso? Quem realmente comanda sua valiosa vida? De qual (quais) senhores é escravo?
E os mais velhos? O que dizer dos idosos? A Medicina e as Ciências Humanas e Sociais com suas capacidades para contornarem ou até mascararem as sequelas e o que lhes causaram, causam tanta dor física, mental e espiritual tentam fazê-los acreditar que estão na “melhor idade”. Cá para nós, seria cômico se não fosse trágico vender esse peixe, essa ideia maluca de “melhor idade”, penso eu. Em que parte, no país que vivemos, é bom ser idoso? (ás vezes custa-me muito ser politicamente correto, traz-me uma sensação terrível de hipocrisia, mesmo sendo grosseiro sem intencioná-lo ser). O desrespeito ao cidadão a partir dos sessenta janeiros é algo institucionalizado nesse país. O governo é seu principal algoz que o trata como estorvo. Adjetivos não colocam pão na mesa, nem trás dignidade a quem deu sua mão de obra e força para construção desse país tão maltratado. Talvez amenize a dor, talvez!
Não sei se Dona Gentileza, Sr. Respeito, Sra. Educação doméstica, Dona gratidão deixarão a UTI e sobreviverão aos dias atuais, às doses diárias nas nossas veias, com direito a acesso central, de desamor, individualismo, desonestidade e cegueira generalizada para enxergar o outro como continuação de si.
De quem depende mudar um destino? Que forças ou estímulos são necessários? De certo mesmo é que estamos vivendo, mais do que um período de crise financeira no país, em uma sociedade doente com sérios danos aos preceitos da boa convivência. Nessa feira de horrores há escassez de valores dos mais simples aos mais complexos. Se pararmos um instante, se quer, diante do espelho e nos perguntarmos por que estamos apanhando tanto, enquanto indivíduo e enquanto sociedade, saberemos certamente responder. Rever escolhas, mudar de atitude, trilhar seu próprio caminho requer mais que vontade, requer coragem, muita coragem, além de amor próprio e ao próximo.
 Júlio Lima

Médico/ Professor