quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
sábado, 15 de fevereiro de 2014
O avesso, do avesso, do avesso
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Imagem colhida na internet |
Ultimamente ando tendo a impressão
que estamos vivendo no estadio da desorganização universal da moral.
Desde as manifestações do verão de 2013, sinto na pele, pelo fato de ser
médico, o apedrejamento político e social de minha categoria.
No entanto, alargando um pouco mais o campo de visão, além do meu umbigo
ferido, estou convencido que apenas somos a "bola de vez", nada mais.
Respeitando a importância das demais profissões, acredito que o país
funciona sobre quatro pilares profissionais: os agentes sociais, os
profissionais da educação, os responsáveis pela segurança pública e os agentes
da saúde.
Se olharmos pela janela da nossa recente história, observamos que em um
passado não longínquo, possuíamos uma educação pública que se destacava, pois
servia a classe dominante. Quantos de minha geração não tivemos um bom
professor que relatara sua origem acadêmica na escola pública, assim como, do
valor social que possuía um educador?
No instante que a educação teve que ser estendida para todas as classes
sociais, por pressão do desenvolvimento externo, iniciou-se um completo
desmantelamento nas escolas e desvalorização profissional do professor que se
percebe, desde então, despido e desamparado pelo Estado.
Na política, dá-se início a um jogo de empurras, demagogias, discursos
hipócritas e promessas vazias em nome da Educação. Essa queda ladeira a baixo
deixa o professor vazio de prestígio social e ridícula remuneração salarial.
Como se diz no popular, além da queda o coice. Os nossos mestres ainda
acumularam a obrigação de oferecerem educação doméstica aos alunos, pois os
pais, na maioria ausentes de seus lares na maior parte do dia, não impõem
mínimo limite às suas crias para um convívio social minimamente aceitável e
ainda cobram esse serviço da escola, seja ela pública ou privada, nesse caso.
Não distante de semelhante realidade estão os agentes sociais. Na
universidade, as ciências humanas não possuem o mesmo ‘glamour” de outras áreas
de conhecimento, nem tão pouco, recebem o mesmo carinho em incentivo e
estrutura. Os profissionais dessa área, assim como o professor, o policial e o
médico que atuam na ponta do sistema, absorvem toda gama de revolta e desestrutura
individual, familiar e profissional do cidadão comum por sua invisibilidade
pelo Estado.
Assim como os demais, o agente social (Sociólogos, Assistentes Sociais,
Psicólogos, etc.) sofre com o desprestígio e baixos salários, além de
trabalharem sobrecarregados por uma demanda crescente de uma população órfã da
presença do poder público. Diariamente trabalham desarmando ou tentando
desarmar verdadeiras bombas prestes à explosão. Não conseguem fazer-se ouvir ou
ser enxergada a sua angústia do exercício limite de sua profissão, pois trabalham
com serem invisíveis aos olhos dos que, de fato, tomam as decisões sobre as
políticas públicas a serem executadas.
A segurança Pública é, no meu entender, um adequador das relações entre
os cidadãos e na sociedade de forma geral, assim como a Medicina é quardiã da promoção
a saúde e bem estar, e prevenção e recuperação das doenças sofridas por este
mesmo cidadão, sendo por tanto, a segurança e a saúde bens “se ne qua nons”
para que a engrenagem social de fato funcione.
Seguidas vezes nos últimos anos, presenciamos nos jornais matinais,
vespertinos e noturnos notícias e fatos que denigrem a imagem dos policiais e
médicos.
Numa narrativa nem sempre amistosa e descrições de estórias quase sempre
tratadas de forma unilateral, tornamo-nos expectadores de uma campanha imoral
financiada principalmente pelo governo, haja vista as ações do mesmo nessas áreas,
e endossada por uma imprensa que insiste em tentar passar uma imagem de que é livre, mas que nos parece depender, e muito, da ajuda e/ou parceria do governo
central, estadual ou local.
As políticas públicas na área de segurança tem se mostrado ineficiente
no condizente a repressão e recuperação do infrator comum que, muitas vezes,
acabam nos presídios, verdadeiras universidades do crime, por questões banais
aonde o infrator poderia ser inserido em programas específicos, caso existissem.
Ou de outra forma, recolocam-no na rua para a reincidência contínua sem nenhuma
punição. Há uma perversidade com o homem
comum e com o profissional militar ou civil que se encontra no outro extremo
das decisões.
O desvirtuamento moral com defesa por seguimentos diferentes da
sociedade de bandidos políticos corruptos condenados, grupos que se intitulam
justiceiros e outros de marginais que
praticam “pequenos furtos”, estes defendidos por políticos e entidades que mais
procuram holofotes e autopromoção sobre a desgraça desse “pequeno marginal” do
que com uma política e propostas que mudem suas realidades tem gerado um estado
de caos social e de verdadeira barbárie em nossas cidades.
O policial trabalha com uma sensação de chuva no molhado, além de sofrer
desprestígio social, má remuneração, estar mal equipado e submetido a condições
extremas de estresse cotidiano ( mesmas condições dos demais citados), ainda
recai sobre si toda sorte de culpa e crítica da imprensa que, vendendo verdades
superficiais sem nunca buscar a ponta do novelo, acaba por influenciar o
cidadão comum a ter a crítica fácil na ponta de sua língua.
Esse desmantelamento de Agentes Sociais, Professores e Policiais não é
fato recente e vem acontecendo nos governos independentemente de sigla
partidária e ideologia política. Como diz minha amiga Mazé: Políticos não se
arranham. Não nos iludamos, jogam todos no mesmo time, o deles.
Pois bem, o atual governo decidiu trazer para si a tarefa da derrubada do
último dos pilares da coluna de sustentação social no meu entendimento – os profissionais
Médicos.
A aproximação ideológica com o regime de exceção da ilha da América Central
e a sua condição falida fez surgir à necessidade de justificativa, pelo
governo, para evasão de divisas nacionais para o financiamento e manutenção da
ditadura. Combinado coincidentemente com a quase única matéria prima de
exportação dos irmãos Castros, médicos, fez com que ainda no início desse
governo, o povo brasileiro fosse contemplado com doses diárias televisivas de
estórias mau-contadas sobre os médicos e o exercício da medicina no Brasil.
Ali está sendo gerado o embrião para o que vínhamos mais tarde a conhecer como o
plano de governo para a saúde no Brasil.
Aproveitando-se do calor das manifestações de Junho/13, o governo
apressa-se para realizar o parto a fórceps do seu plano para ajuda a ditadura
da ilha e desmantelamento da profissão médica. Promove através de publicidade
milionária e em parceria com os empresários da comunicação um verdadeiro
desmonte de uma categoria profissional, assim com já havia acontecido em outras
circunstancias com outras categorias, como as já citadas e outras, tais como,
os bancários que também sofreram o mesmo desmonte pelos donos do capital financeiro
sob a batuta dos governos.
A corrupção, ineficiência e ausência do Estado colocam os profissionais que
estão na ponta do Sistema como muro de lamentações e pancadas pelos cegos, desassistidos
e analfabetos funcionais. Vivemos o avesso da história, da moral e da ética.
Estamos marchando na contramão do mundo, sem norte, sem rumo.
Júlio Lima
Médico/Professor
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