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Fonte: Internet |
Existe uma lei da
física que nos fala que o universo caminha para uma entropia. De fato,
conseguimos, por exemplo, desorganizar um ambiente com bem mais facilidade do
que deixa-lo organizado. Além de que, o ato de organizar traz consigo uma
sensação de trabalho e racionalização do processo, enquanto, muitas vezes, nem
percebemos como instalamos o caos onde estamos.
A raça
humana tem se superado cada vez mais na tarefa da autodestruição e destruição
do planeta que habita.
Guerreiam-se
no atacado por expansão de territórios e subjugação de outro povo, por
fanatismo religioso e pela aquisição ou manutenção de poder quase absoluto
destruindo inclusive sua gente. Guerreiam-se no varejo pela vaga da fila do
pão, vaga do estacionamento, da ficha no guichê, pelo espaço privilegiado no
cunhão do chefe, por trocados nem sempre lícitos, por fantasias consumistas.
O
homem aprendeu e se apegou com força à hipocrisia. O marketing lhe trouxe a
ferramenta precisa e tudo é passivo de maquiagem. Da atitude distante do
discurso e da aparência à negação da morte, vivemos um enfadonho e nebuloso
baile de máscaras social. Lobos camuflam-se de cordeiros, catacumbas
disfarçam-se de belos jardins floridos e bem cuidados.
O
sistema vende a todo o momento a ideia de felicidade plena a ser alcançada na
necessidade do acúmulo, do ter mais bens, ter mais roupas (de marcas), ter o
carro mais caro, ter mais lugares visitados, ter mais “amigos” nas redes
sociais, ter mais, ter mais, ter mais.... Se você não tem...você não é.
Para
fugir da ideia e da noda demoníaca, criada na sociedade de consumo, do não ter
e logo, não ser, o sujeito tem sido doutrinado há permanecer o tempo todo
armado e pronto para o embate e para a vantagem que pode tirar de qualquer
situação criada.
Observa-se
cada vez mais e por motivos cada vez mais banais, não sem perplexidade e pavor,
e em idades mais breves as pessoas perderem sua compostura e lançarem-se em
ataques verbais, gestuais ou físicos.
Impressiona
a pressa com que alguns têm passado da “educação” para o gesto insano de
agressividade. Para isso, basta ser contrariado, então toda sua carga de
desgostos, frustrações e desgraças são ligeiramente vomitados em frações de
segundos sobre o oponente da vez, geralmente incrédulo do espetáculo parvo que
presencia. Cena bastante frequente feita por acompanhantes de pacientes em
hospitais, por exemplo. O paciente quase nunca o faz, em bancos, restaurantes e
locais públicos.
A
busca insana pelo padrão de felicidade e facilidades vendido pelo mercado
também tem fabricado legiões de indivíduos isentos de qualquer energia para o
trabalho ou imbuídos de qualquer preceito moral. Comportam-se como hienas em
busca da caça alheia sem considerar o esforço do caçador ou urubus que fazem
festa sobre o defunto já frio e em decomposição. Nem as carcaças da presa
deixam para trás. Mercenários, estelionatários, espertos de plantão saem todo
dia de casa para te encontrar.
A
ordem do dia é lutar e vencer, vencer, vencer. Sinto muito pelo rumo que deram
a palavra vencer, tão forte e significativa e tão usurpada de seu sentido.
Espero
que não esteja muito Auguto dos Anjianos e que tão pouco veja generalização
torpe em minhas palavras. Até que gostaria de estar exagerando, pois seria
menos surreal.
É
claro. Também existe o contraponto.
Não gosto da ideia da luta do bem contra o
mau, mas da existência de um movimento entre a entropia e sua antípoda que é a
organização, o ato produtivo, a estabilidade.
Mares
bravios é que formam bons marinheiros, sofrimento trás maturidade, tragédias
pessoais trazem a realidade. Muitas vezes, o aprendizado ou algum aprendizado
chaga-nos pela dor; outras não, como pela educação do exemplo que é a que mais
acredito. Pessoas fortes e solidárias vão se moldando e é nos encontros que se
unem e juntas buscam a harmonização e trazem um equilíbrio na balança da
existência.
Certamente
não é fácil nadar contra a maré, contra a sedução das facilidades, dos
atrativos do menos trabalhoso e mais vantajoso. Resisti-los o tornam diferente
e os diferentes quase nunca são tolerados.
A
oração, a ética, a lealdade, a caridade e a solidariedade são antídotos,
atributos com altíssimos graus de complexidade e que exigem imensuráveis
investimentos pessoais.
Resistir
á tentação do pequeno delito para muitos é como uma criança resistir uma
guloseima em festa de aniversário do coleguinha.
Crescemos
ouvindo àqueles que enfrentaram tsunames ou tiveram a inteligência de
aprenderem com os exemplos, muitos desses sem estudo algum, dizerem: O mundo
dá, mas também ensina; quem encontra besta não compra cavalo; quem se mete a
redentor termina crucificado; diz-me com quem andas que direi quem és; todo dia
sai de casa um besta e um sabido. Noutra face desse prisma, santos, avatares,
ativistas, humanistas, filósofos nos transmitiram, por sua trajetória de vida
ou pelo verbo, alternativas para que não se entre no redemoinho do mundo
material, amoral e frio.
Não
me canso de expressar, embora sem nenhum conhecimento técnico ou dados que
comprovem, que a educação religiosa cumpre um papel social que as escolas pagãs
que vem lhes sucedendo não estão conseguindo fazê-lo, na contribuição da
formação ética e moral dos nossos jovens, embora entenda que o papel principal
e primordial da educação de civilidade, moral, ética é dos pais, que também têm
se excluído do processo e cobrado das escolas, que por sua vez, no mundo regido
pelo capital, quer preparar o jovem apenas para o mercado de trabalho. Este
fica no desamparo. O jovem só gostará de rezar, orar ou ir a ritos religiosos
se forem estimulados. O jovem só tratará bem o idoso, o mendigo, o doente, o
diferente com delicadeza e igualdade se tiver o exemplo próximo de quem é sua
referência.
Acredito
que vivemos uma paranoia coletiva pelo trabalho e luta das nações e das grandes
corporações por crescimento econômico que o fazem em detrimento da saúde
coletiva e individual.
Somos
um exército de escravos adestrados a acreditar que a felicidade estar no ter,
no poder e no ser social. Estamos tão doentes que condenamos e discriminamos
quem enxergando um palmo além do nariz e do umbigo encoraja-se e rompe com essa
insanidade coletiva, essa maconha estragada eterna que cega e deixa letárgico e
sem energia para reação quem está institucionalizado nesse processo.
O
bem x o mal; o In x Yang; o fogo x água; o sol x chuva; o ego x superego; ética
x imoralidade; solidariedade x individualismo; eu x meus fantasmas. Como diria
Chico Science: de que lado você samba? De que lado, de que lado, de que lado
você vai sambar?
Júlio
Lima
Médico/
Professor