A maior busca do ser humano consiste em encontrar alguém que caiba em
sua loucura. "João
amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria..." Drumond,
Vinicius, Edu lobo e tantos outros compositores e poetas já descreveram as
vicissitudes das relações humanas. Fato que nos mostra que tal apanhado não é
prerrogativa das novas gerações. No entanto, a maneira como as pessoas lidam
com os contratempos e as contrariedades nas relações com seus pares tem se
mostrado diferentes no evoluir dos tempos.
Cada
pessoa constrói seu modelo de desejo, seu arquétipo perfeito que a fará feliz e
dessa forma se lança em um palheiro de dimensões exageradas na ânsia ou
esperança do encontro com seu par perfeito ou a outra banda da esfera perdida
do mito de Andrógino.
Observando
a volatilidade das relações atuais, questiono- me se algo está errado agora ou
outrora que não se acertou?
Vivemos
numa busca quase insana pelo prazer em detrimento de qualquer desconforto. Como
na maioria dos objetos, atualmente fabricados, que quando apresenta alguma
falha já não interessa seu concerto e automaticamente se troca por um novo, as
relações humanas têm seguido esse modelo.
Romances
céleres, amizades frágeis, encontros casuais, amistosos e impessoais. Não se
dispõe mais de tempo para o banco da praça, para a conversa, para pequenas
gentilezas cotidianas frutos do convívio. Será que essas coisas eram chatas
mesmo?
O
prazer é a droga do momento e, como toda substância que trás sensações intensas
em parco tempo, causa dependência e logo, logo se necessita de cada vez mais emoção que traga empacotada
doses também casa vez maiores dessa "porção" para chegar ao êxtase
tão perseguido. Em pouco tempo, o parceiro ou parceira já não satisfaz a
carência do outro. Um fosso já se instalou e agora tudo é pouco. Detalhes
pessoais de cada um no cotidiano podem receber um holofote e ser motivo para a
instalação de uma tempestade. A presença do prazer não satisfeito na dose
exigida começa a minar a relação. O outro já não representa tanto.
Observamos
pessoas abrirem mão de relações aparentemente sólidas, construídas com esmero,
para lançarem - se em aventuras em busca de alacridade cada vez mais intensa. O
céu é o limite, pena que nem sempre quantidade faz par com qualidade.
O
individualismo, estimulado pela sociedade de consumo, tem mutado e fecundado
seres que não conseguem enxergar nada além de seu próprio umbigo. Legiões de
narcisos frequentam academias, shoppings, festas, bares que se cegam para
qualquer coisa além de si mesmos. Correm o risco de terem o mesmo destino de
Narciso que se afogou e morreu inebriado por sua própria imagem.
De
outra forma, será que o ser humano está se libertando das convenções sociais
que lhes foram impostas e está dando vazão ao que existe em si como essência? A
espécie humana é poligâmica por natureza? O chakra sexual é o centro do comando
do humano e o cérebro é seu apêndice? Quem gosta de maçã, gostará de todas por
que todas são iguais?
As
sociedades se estruturaram e se estruturam por normas que indicam códigos de
condutas e, dessa forma, estabelece o que é lícito ou não; o que é certo ou
errado. Assim nasceu e vingou o conceito de família.
Em
tempos atuais esse conceito tem sido ampliado, ao mesmo tempo em que observamos
um reordenamento nessa estrutura, pois famílias se constituem e se desfazem, ou
se ampliam, com frequência cada vez maior. Joãozinho que é filho de Tiago, este
padrasto de Anita, cujo pai namora Antonio, ex- marido de Carminha, madrasta de
Cecília que está na terceira série do fundamental.
Parte
desse contexto começa a ser desenhado quando o primeiro insatisfeito decide
mudar o endereço de sua conta telefônica ainda nas primeiras crises conjugais.
A insatisfação eterna, mesmo pensada de forma diferente, geralmente não tem
alojamento no outro, sua gênese está no próprio sujeito que a aloja, que trás
em si um fosso que talvez nunca seja preenchido, onde o máximo ainda significa
o mínimo.
O
humano há muito se afeiçoou ao novo (no seu sentido de novidade), isso é pauta
encerrada. A questão que levantamos é o quanto o novo tem assumido relevância
na hierarquia de suas prioridades? Não sei se enxergo muito mal, mas a sensação
que tenho é que os transeuntes da praça estão muito acelerados e assim só
conseguem ter visão macro em seu entorno. Já não dá tempo da fruta amadurecer
em seu "pé", ainda verde é arrancada e lançada ao carbureto, é bela,
mas sem nenhum sabor. É como comida e restaurante. Alguém já comeu fora de
casa? Pratos aparentemente bonitos, bem dispostos, porém com sabor de nada.
Dessa
maneira observamos parte das relações. Já não há convivência. Pulam- se etapas
e lançam - se no carbureto da paixão, percebendo- se com brevidade que mais uma
vez o prazer mostrou- se efêmero. Passado o primeiro tesão da beleza e a
primeira gozada, instala- se o desconforto e a vontade de mudar mais uma vez.
Essa mudança pode ocorrer de forma saudável, onde a companhia é informada e
cada um segue em sua busca, ou de forma doentia, onde por covardia alguém não é
informado e passa a haver traição.
Quem está com a razão? O novo modelo nas relações ou o antigo? Quantidade ou
qualidade? Liberdade ou estado de sentir- se preso? Ética ou imoralidade? A
dualidade é o que caracteriza o ser humano e, nessa questão, você procura
alguém que caiba em sua loucura ou nos seus sonhos? O que pode ser redesenhado?
Alguma coisa pode?
Talvez
não tenhamos respostas para tais questionamentos, mas quem sabe se uma boa
conversa não minimize a rotatividade das relações?
Júlio Lima
Médico/Professor
Nenhum comentário:
Postar um comentário