terça-feira, 31 de julho de 2012

Um homem de verdade


Recebi, com grande alegria, notícias de um primo querido. Enviou-me uma poesia que escrevera e que, pensando em poesia, lembrara de mim. Compartilho com o(a)s amigo(a)os o texto de UM HOMEM DE VERDADE.(texto na íntegra) 
Júlio Lima


Caro primo!
       Lembrei-me de você agora há pouco quando me deparei com um pequeno texto que esbocei há cerca de 10 anos atrás. Sei o quanto você gosta de poesia, entao pensei "meu primo poeta talvez goste desse texto aqui".
       Infelizmente, a obra nao tem título, mas "Homem de verdade" me parece um título apropriado. Espero que goste.
 
   O homem, verdadeiro, faz o que tem de fazer e não se arrepende. Mas chora.
   O homem, verdadeiro, luta por seus ideais, seus sonhos. Nem vacila, nem se vai embora.
   O homem, verdadeiro, é aquele em quem se confia, constante e firme em seu dia-a-dia.

   O homem, verdadeiro, não tem porque se envergonhar.
   Se erra, conserta; se quebra, repara; se peca, confessa, pede perdão. 
   O homem, verdadeiro, dorme a noite tranquilo, com a consciência limpa, cumprida a missão. 

  Queria, de verdade, ser um homem verdadeiro.
  Ter Deus como companheiro e um amor como companhia.
  Ser lembrado pela proeza, justiça e sabedoria:
 "Eis um homem de verdade! Verdadeiro por inteiro." -- minha lápide diria.
 

A lingua portuguesa eh o que ainda me prende ao Brasil, pois a beleza da nossa lingua nao eh igualada por nenhuma outra. A fim de ilustrar esse fato, segue abaixo o mesmo texto traduzido para o ingles. Veja como eh insipido.
A True Man
(by Waltemar de Sousa)
A man, truthful, does what he must and regrets not. Yet he cries.
A man, truthful, fights for his ideals, his dreams. He hesitates not, nor does he flee.
A man, truthful, is he whom one may trust, steady and firm in his day-to-day existence.
A man, truthful, knows not a reason to be ashamed.
If he errs, he rights; if he breaks, he mends; if he sins, he confesses, he asks for forgiveness.
A man, truthful, sleeps comfortably at night, with a clean conscience, his mission accomplished.
I wish, truthfully, I were a true man.
Have God in my company and a loved one for companionship.
Remembered for his might, justice, and wisdom:
"Behold, a true man! Truthful as a whole." -- thus saith his tombstone.

Grande abraço de seu primo,
Waltemar Jr.

sexta-feira, 13 de julho de 2012



quinta-feira, 5 de julho de 2012

O pálido Ponto Azul

Filme da palebluefilms, sobre texto de Carl Sagan, narrado por ele próprio.
Até quando os homens vão preferirem se materem na ignorância moral? As vezes, imagino que o grande problema da humanidade é o ser humano!


sexta-feira, 22 de junho de 2012

O samba de minha terra

Para: Fábio Castor

            Tive uma infância muito festiva e alegre. Parte dela vivenciada entre o sertão dos Inhamuns e o Cariri cearense, na fazenda Cacimbas, município de Assaré.
            Quando criança, a principal atividade agrícola daquela região era a cultura do algodão que convivia com a pecuária e plantio de subsistência do arroz, feijão, milho e frutas diversas.
            A semana era de muito trabalho, a qual se iniciava logo que o sol expulsava a madrugada e se estendia até à tardinha, quando o sol já cansado, se recolhia.
            Não existia, nas Cacimbas nessa época, energia elétrica. À noite, todos se reunião na casa grande para uma boa rodada de prosa à luz da lua e vigiada pelas estrelas. No oitão da frente ficavam os adultos que papeavam enquanto debulhavam vargem de feijão ou desencaroçavam o algodão que seria vendido em arroubas.
No oitão de trás ficava a moçada jovem com violão a cantarolar, jogo de baralho, brincadeiras como “cai no poço”, onde o rapaz e a moça ensaiavam um enamoramento. E por fim, no meio da casa, nos terreiros e no meio do povo dando conta de tudo que se passava e se conversava estavam os meninos e meninas provocando peraltices.
Nos finais de semana, noite de sábado mais precisamente, existiam os sambas, como eram chamadas as noitadas de forrós do lugar.
Não se comentava n’outra coisa que não fossem os acontecimentos do samba passado e a expectativa do samba que viria.
O cenário dessas festas era um espetáculo à parte. No terreiro das casas montavam-se as bancas de comidas, bebidas e de jogos. Tudo sob a luz do lampião a gás e lamparinas com querosene espalhadas por todos os lugares.
Boa parte da alegria da festa estava no terreiro. No bolo pão de ló feito na lata de sardinha como fôrma e no forno à lenha, nos filhóis de goma saindo quentinho do óleo fervente, da galinha de capoeira feita na hora para tira-gosto dos consumidores de aguardente de cana (cana de cabeça) ou cerveja enterrada e refrigerada em balde de terra. O jogo preferido, de longe, era o bozó, onde os jogadores apostavam seus trocados em números ou símbolos de times de futebol organizados em duas fileiras sobre uma mesa, cujo comando era do dono da banca de jogo, que lançava dois dados sequenciados. Àquele que acertasse os dois valores saia vencedor naquela rodada.
No salão de dança, outro cinema (como se referiam as coisas consideradas bonitas). As mulheres de saia ou de vestido, boca pintada e de pó forte no rosto colocavam-se nas arestas do salão formando uma espécie de círculo mal feito à espera do convite pelo cavalheiro para uma parte de dança. Era uma festa extremamente democrática, tinha pirralhos, jovens, adultos e idosos balançando as cadeiras e mostrando os dentes de felicidade. Em cima de uma mesa ou n’um canto da sala estava o sanfoneiro, acompanhado do zabumbeiro, triângueiro e tocador de pandeiro.
O termômetro da festa era a poeira no meio do salão. Se assim ocorresse, o sanfoneiro era bom. E tome samba a noite toda, o fole roncava, triângulo tinia, pandeiro piava e zabumba amanhecia rouco e de couro fino.
Nessas festanças, com essa gente gaiata cheia de felicidade no rosto e nos pés, sempre ocorriam fatos que viravam “causos”. Era o sujeito que dançava abufelado no cangote de uma nega a noite todinha e que se escondia na hora da paga da quota do sanfoneiro; era o caboclo que torava as correias das japonesas de tanto arrastar o pé; eram as caboclas polidas, “educadas” que despachavam seus pretendentes, que não as interessavam, com uma delicadeza sui generis.
Uma das maiores riquezas do povo nordestino, principalmente da população mais humilde, é a espontaneidade. É a verdade sem entrelinhas. Eufemismos não existiriam se dependessem dessa gente.
Certa vez, num samba de Loló (D. Gulora, epônimo de Glória) estavam Pedro Monteiro, cabra bom, e Antonieta, cabocla polida, educação britânica perdia feio!!!!
Pedro tinha uma fama um tanto quanto “injusta”. Diziam que ele era danado pra acabar samba com as bufas que soltava no meio do salão. Como diziam: - Pôôôôde, caba véi!!!!!!
Pois bem, estava Nieta em pé no canto da sala, braços cruzados e acompanhando a música com a cabeça pra lá e pra cá de forma ritmada, quando Pedro Monteiro se aproxima, pega no ombro da moça e faz o convite:
- Nieta, vamos dançar?
Antonieta se ajeitou toda, puxou o vestido ajustando-o bem, descruzou os braços levando-os a cintura, inclinando levemente a cabeça, olhou bem para Pedro Monteiro e disparou em voz altiva:
- Deixou o cú em casa?
Pedro, sem pestanejar, sem ungir, nem grunhir balançando a cabeça e seguindo o ritmo do xote ensaiou alguns passos solitários, enquanto deixava o campo de visão da morena da pele de jambo e olhos agatanhados.
Nos sambas da minha terra também marcavam presença as moças que vinha da cidade. Essas usavam salto alto com trazeira do sapato fino e longo feito um punhal. Aquilo era uma arma.
Itim (apelido de Adailton), muito enxerido, convidou uma dessas moças para dançar. A nêga peituda e rabuda, mais enxerida do que Itim, rebolando as cadeiras num vai e vem frenético e desajeitado, pisou tanto no pé do usurado que mal o sanfoneiro deu o último acorde da música, o caboclo largou-se da dançarina faceira e partiu, mancando, em direção à cozinha, aonde se encontrava Loló (a dona da festa).
- D. Gu-Gu-Gulora (ele era meio gago), a senhora tem um remédio para botar nos meus pés que estão ardendo de dor que uma impestada do Assaré pisotiou o coitado todim? Tá doendo deeemais, homi!
Lóló era uma espécie de “Bombril” sertaneja: comerciante, curandeira, enfermeira, conselheira, pau pra toda obra...
- Tenho meu fí, pera que vou buscar.
Loló foi ao quarto, revirou toda medicação que tinha e encontrou uma pomada já antiga e cujo nome estava meio apagado.
- Pronto, meu fí, passe isso aqui que você fica bomzim.
Itim, se vendo de dor, pegou a pomada e passou-lhe nos pés, quando, da sala, se ouvi o grito:
- Aaaaarri muleeessta, que peste é essa que a senhora me deu, D. Gu-gu-gulora? Tá ardendo deeemais, homi!!!!
Loló aperreada com a reação causada pela medicação foi ler o nome da danada da pomada, que estava incompleto, apenas com as iniciais. Uma letra “F” e uma letra “E”.
Loló olhou pra Itim com firmeza e desparou:
- Há meu fí, deixe de froxura, sujeito!!! Essa pomada é uma rilíquia, tá veno, não?
- E c’umé o nome dela, pelo amor de Deus?
- O nome? É...é...é Fe-fe-fe...ah! (faltando-lhe a paciência) É Fe - ó – Fó passe na perna, pronto! E deixe de pergunta difícil. N’um já dixe que era pra isso!
Itim com pé pisado e intoxicado perdeu o resto da noite em um canto de cerca esperando a dor passar.
Muitas são as lembranças, muitas são as histórias, muitos foram os sambas inesquecíveis, muitas foram as alegrias e risadas. A maneira encontrada pelo povo nordestino e em especial, o cearense, para se manter com a mente sã a despeito de todo sofrimento e descaso do estado foi rir, rir muito e rir de si mesmo, de suas qualidades e defeitos suavizados na alegria de viver, amor ao próximo, nas festanças, na devoção sempre presente e em boas gargalhadas.
Júlio Lima
Médico/ Professor




sábado, 9 de junho de 2012

Osteoporose

Participamos de um debate interessante sobre osteoprose no consultório da Graça na Rádio Jornal. http://radiojornal.ne10.uol.com.br/2012/06/06/osteoporose-alimentacao-e-medicamentos/

quarta-feira, 23 de maio de 2012


A PERCEPÇÃO DO BELO

A existência da preocupação com a aparência provavelmente tem sua origem no período paleolítico e coincide com a própria existência humana. Certo é que esse conceito é mutante e obedece ao período histórico que se observa, assim como, a cultura social de determinado povo.
Para artistas com Da Vinci, a beleza residia na simetria. Platão afirmava que a beleza tornava visível o espírito. Para os pensadores medievais, sobe influência do cristianismo, atribuíam-na como uma criação divina.
A subjetivação da beleza tem sua origem na idade moderna. Para Kant, ela se traduz no juízo que exprime no sentimento de prazer.
De outro modo e contrapondo-se ao conceito do belo há ideia e o conceito de fealdade. Enquanto o belo era formoso e harmonioso, o feio era disforme e desfigurado. Mas quem estabelece esses limites? Tornando o que é considerado bonito agradável aos olhos de quem o ver e o feio que provoca náusea e dissabor?
Todos indistintamente podem exercer a característica do belo ou isso é reservado a poucos, aos “diferenciados”? Os olhares sobre esse binômio são uniformes ou a concepção da beleza é resultado de experiências individuais e/ou ideológicas?
Pretensamente vivemos em uma sociedade ocidental democrática aonde o trânsito entre as diversas classes sociais é mais que uma possibilidade, uma realidade. Pergunto-me se esse trânsito também ocorre entre o que angustia e o que excita os sentidos.
Percebo um desconforto, por que não, um confronto entre as diversas classes sociais na identificação do que é “chique” e entendido como luz aos olhos e o que é brega, algo renegado e não aceito, obscuro. Acostumamo-nos com uma realidade em que as novidades sempre surgiam na corte e eram copiadas pelo povão, pejorativamente chamado de plebe, ralé, mundiça. Pois é, atualmente, não saberia colocar se essa assertiva é verdadeira ou falsa. Percebemos um anivelamento das novidades. A estética da periferia faz hoje uma espécie de “pororoca” com o que é produzido nos grandes salões.
No entanto, há uma faixa de nossa população, que não é pequena, que além de não aceitar a liberdade da estética procura a todo custo descredenciar o que a seus olhos parece ousado demais ou distorcido.
Freud colocava o cultivo da beleza como uma das fontes de sofrimento incontornáveis onde havia algo de indomável que poderia volta-se contra nós mesmos. Nesse contexto, pergunto-me quem é realmente livre, aquele ou aquela que vive segundo critérios próprios de beleza ou quem segue padrões pré-determinados? Até onde o messianismo à beleza ou o ceticismo a ela determina o padrão de comportamento, conduta e até de competência dos indivíduos?
Por sermos um povo mestiço de raça, uma verdadeira salada de genes, deveríamos ter essa questão das diferentes faces da estética muito bem mais resolvida, mas isso não é bem assim.
 Parafraseando Cazuza, temos muitos caboclos pretendendo-se ingleses entre nossa gente. Para esses, esse negócio democracia da estética é retórica para boi dormir e que não existe qualidade, nem beleza em nada que não saia de sua tribo.
Uma das maneiras de diferenciar, estratificar e mais ainda deixar bem claro o posicionamento de cada um nessa cadeia social e pirâmide da aparência surgiu no final do século XIX com a revolução industrial na Inglaterra com a criação do fardamento profissional. Cada profissão de acordo com sua posição no escalonamento social tem seus hábitos e tecidos diferenciados instituindo e convencionando como o belo, obviamente o mais bem sucedido. Dessa forma,  esperam que cada um, por gentileza, reconheça seu lugar e assuma seu papel.
Obviamente, muito antes da revolução industrial alguns grupos se destacavam por sua vestimenta própria como, por exemplo, os cavaleiros templários durante as cruzadas, os militares e o próprio clero hierarquizado.
Dessa Maniera, o uso do uniforme profissional segundo seus criadores teria como objetivo, além do charme, organizar as diversas funções, facilitando o reconhecimento e o bom exercício de cada profissão.
No entanto, pergunto-me sinceramente se na cochia dessa intenção não se esconde o interesse de separar os indivíduos numa espécie de casta disfarçada, instituindo a forma com que cada indivíduo deverá ou merecerá, na ótica de quem tem o poder de ditarem as regras, ser respeitado e tratado. O conceito de beleza e organização a serviço da hierarquia entre as classes sociais.
Ora, salvo engano, todos são iguais perante a lei, certo? Então por que choca tanto a algumas pessoas se um advogado soltar e paletó preto ou azul e se vestir com macacão vermelho de um estivador? Louco, inapropriado seriam os melhores adjetivos que lhe atribuiriam.
Perigosas se tornam as relações sociais quando o continente é mais importante do que o conteúdo. Quando a embalagem for mais valorizada do que o produto estará havendo um profundo desvirtuamento do que realmente importa.
Por tanto, o fato de alguém possuir maior escolaridade ou maior conta bancária que outro não deveria jamais ser parâmetro indicativo de diferenciação de beleza, da maneira de se dirigir a alguém ou do tipo e cor de pano que possa se cobrir.
Quem disse que branco é da paz e o preto da morte? E se a paz quiser se revestir de preto? Se o sol encher-se o saco do amarelo? Se a freira ousar num salto Luís XV e a mulher da esquina barbarizar na botina?  Onde está o disforme ou desfigurado dessas situações?
Talvez eu seja um cego social, pois não enxergo a feiura no fato de pessoas não seguirem rótulos.
Salve, salve a anarquia da beleza...

Júlio Lima
Médico/Professor










sexta-feira, 13 de abril de 2012

Êxodo rural às avessas


Para Professora Norma Montalvo de Soler.

            O Brasil é um continente e possui diferentes biomas em seu território. Há mais de meio século éramos deflorados pelos europeus ávidos por riquezas alheias. Impuseram-nos economicamente uma vocação meramente extrativista e monoculturista.

            Sofremos vários ciclos produtores que, em seu período de vigência, traziam alguma prosperidade para a região contemplada. Foi assim com a cana de açúcar no Nordeste, com a borracha na Amazônia, com o ouro nas Minas Gerais e com o café em São Paulo e Sul do país.

            Quando nossas reservas eram dizimadas, por exemplo, o ouro de Minas que ainda hoje é posto à mesa da corte e alta sociedade inglesa por incompetência lusitana, ou nosso produto perdia valor no mercado mundial buscava-se nova cultura em outra região.

            Naquela área ficava o espasmo, o vazio, a decadência e parcas lembranças daqueles que tinham os pés fincados na terra como raízes. Restava ali uma população a mercê da própria sorte.

            Política Social? Do que se trata? Nada que resgatasse os que ficavam para fechar a porteira ou permaneciam dentro dela. Não havia política alguma no Brasil colonial, Império ou República, que não estivesse para o benefício da medíocre classe dominante.

            A região Nordeste, de bioma mais instável, sempre “pagou o pato” pelas confusões no céu, fosse pelo choro das virgens celestiais chovendo muito em pouco tempo, fosse pela escassez de algodão nos ares para converterem-se em água.

            Secas devastadoras, como em 1879 e 1915, traziam miséria, fome, desnutrição e doença a uma população há muito abandonada e esquecida pelo poder central. A bola da vez, nessa época, eram os cafezais nas grandes fazendas do interior de São Paulo.

            Nesse período houve um grande êxodo do Nordeste ao interior de São Paulo e Rio de Janeiro, minguado logo depois pela chegada dos imigrantes europeus mais “robustos, afeiçoados e espertos”.

            Com o início da industrialização esse contingente populacional, expulso dos cafezais busca trabalho nas crescentes cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse povo miúdo, feio e miserável aos olhos dos gabolas aristocratas servia agora de lenha aos fornos das olarias recém-surgidas. Passam a povoar as encostas, morros e margens daquelas cidades.

            A esse povo só restava à dignidade pessoal já que a social lhe era furtada e a lembrança do amanhecer e pôr do sol de sua terra seca de onde vingaram a gente, prontos para a labuta e o sofrimento.

            No final da década de 1950 dá-se início, no planalto central brasileiro, a construção da nova capital do país, Brasília. Dessa vez, gente de todos os pontos do país, cearenses (como meu avô Júlio Luís Barbosa), potiguares, pernambucanos, mato-grossenses, capixabas, fluminenses, paroaras, bandeirantes migraram para a terra das plantas baixas em busca do que o Estado se fazia incapaz de lhes oferecerem em sua terra natal – emprego e comida.

            Nas décadas seguintes, de 1960, 1970 e primeira metade da década de 1980, há uma retomada da industrialização, do chamado milagre brasileiro, na verdade propaganda enganosa dos governos militares e que atraiu a população pobre com a promessa de trabalho e renda. Mais uma vez, os nordestinos foram recrutados para os subempregos e indigência inchando, cada vez mais, as grandes capitais do país, primordialmente as do Sudeste havendo uma crescente “favelização” nesses lugares.

            Desse período, trago fortes lembranças, principalmente da seca de 1983. Ano em que perdi parte dos amigos que seguiram empurrados pela força gravitacional da miséria para o sul com suas famílias. Igualmente a eles, milhares de conterrâneos seguiram em paus-de-arara, coletivos clandestinos ou pela Itapemirim rumo aos subúrbios.

            No entanto, muitos foram os teimosos que se negaram a romper o cordão umbilical com sua terra e sua gente. Para esses restava à lida em frentes de serviços, como construções de açudes subsidiados pelo governo, cuja ajuda concreta se limitava a uma tímida feira básica, aonde o feijão já vinha rico em gorgulhos.

            Muitas famílias de homens bravos, íntegros, honestos e acima de tudo crentes, cuja palavra dada tinha força de assinatura em cartório caíram no “conto do vigário” e na ilusão do “sul maravilha”.

            Esses homens e mulheres partiam levando suas “ninhadas” de pequenos, pois poucos eram aqueles que possuíam menos de seis filhos dependentes. Essa gente, arrancada pela miséria e pela fome, troca seus roçados secos por casebres amontoados em morros do sudeste.

            Mal desembarquem em terra estranha com gente esquisita, como diria Renato Russo, partem em busca de um serviço para alimentar o bucho, pois serviço foi só do que a maioria sempre sobreviveu já que sem estudo, emprego para eles não existia. Seus filhos agora brincam entre becos e sobre lamas e lajes. Na ausência dos pais logo aprendem o caminho do asfalto.

            Os anos se sobrepuseram e esses pais já não tinham controle sobre suas crias que vivendo na miséria urbana já não são regidos pelos mesmos preceitos de hombridade e subserviência de seus pais e avós.
            O retirante que chegara adulto na cidade grande nunca se homogeneizara com aquele universo e vive a ilusão de retornar a suas origens. No entanto, essa mesma gente agora submetida às leis e regras urbanas de sobrevivência há muito perdera sua ingenuidade e também já não se homogeneízam com aqueles que não partiram. São  brasileiros híbridos e sem identidade, pois não se veem completamente urbanos; tão pouco como o camponês que fora.

            Nesse meio tempo, seus filhos e os filhos dos filhos nascidos e formados nos morros e favelas e na inércia perversa do governo com ausência de políticas públicas e sociais efetivas, aliados a uma sociedade de consumo excludente e de valores morais e prioridades questionáveis passam a serem presas fáceis aos grandes cartéis e financiadores do tráfico de drogas e, por vezes, atores do jogo de violência de toda sorte.

            No final dos anos 90 e, por toda última década, presenciamos em fim um início de distribuição do avanço econômico vivenciado pelo país, que pela primeira vez em sua história apresenta avanços significativos em todas as regiões.

            Com o favorecimento do cenário mundial, aliado as políticas públicas, ainda deficitárias, mas presentes há uma melhoria substancial na qualidade de vida das cidades de pequeno e médio porte em todos os estados do Nordeste.

            Nas grandes metrópoles observa-se também o aumento da repressão a violência com melhoria do aparato tecnológico dessas cidades e de suas polícias.

            Essa conjuntura, dentre outros fatores, desencadeou na última dezena de anos um êxodo rural às avessas fazendo com que haja nas cidades nordestinas menores e medianas, assim como na zona rural, um aumento da violência, uso de drogas e criminalidade sem precedentes em nossa história.

            Essa violência qualificada formada nos subúrbios paulistanos, cariocas e de outras metrópoles pelos descendentes daqueles que partiram para o sul, em revoada de retorno, em fuga ou em busca de oportunidade, tem gerado o caos, aonde outrora existia uma vida pacata e segura.

            O cidadão interiorano camponês tem sido saqueado em seus bens, sua vergonha e dignidade por “mutantes” emigrados que não conhecem, tão pouco valorizam, alguma coisa de suas raízes. São homens contaminados pela perversidade e barbárie tão comuns nos lugares de onde partiram.

            Temos, sem dúvida, grandes exemplos de superação e vitória de parte daqueles que se foram e de seus formados. Cidadãos que superaram todas as dificuldades e venceram em terra alheia muito mais por méritos pessoais e não pela presença do Estado.

            Será que o preço do progresso passa inevitavelmente pela perda da paz e da segurança, pela frieza burocrática das relações, pela escassez de tempo para projetos e ações pessoais, pelo desequilíbrio emocional de nossos cidadãos?

            De tudo que caracteriza o progresso, talvez a violência sofrida pelo homem comum seja de longe o principal item que nos leva a questionar a real vantagem desse negócio de “desenvolvimento”.

            Até onde vale a pena esse modelo de crescimento e modernização vigente em nosso país? Será possível a tal da sustentabilidade também para nossa região e nosso povo ou isso é retórica de românticos? O ser humano é corrompido com o caminhar dos anos ou trás em si a voracidade do lobo sobre os iguais?
            Devemos apenas assistir da geral as transformações sociais a que estamos sujeitos ou cabe-nos o dever de lutar para participar da engrenagem que faz funcionar essa máquina? Já não está na hora de maturar nossa democracia e deixarmos de lado o discurso que ainda estamos engatinhando ou somos muito jovens nesse processo? 

Como diria Nelson Rodrigues – Aos jovens peço apenas que cresçam e tornem-se adultos (sem perder a alegria, por favor!). 

A todos, peço apenas que descruzem os braços!

Júlio Lima
Médico/ Professor


           

           

           

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O PARADÍGMA HUMANO

              A burrice humana está nas atitudes que invariavelmente chegará ao vazio, à inércia, a depressão, a um fim pouco glamouroso de quem coloca no dinheiro sua razão de viver.
              A cada dia que passa me convenço, cada vez mais, que o grande mau da humanidade é a própria raça humana ou seria, n’um passo à frente do pensamento, o fato do ser humano obrigatoriamente converter-se de criança à adulto.
              Sim, penso que o humano adulto, macho ou fêmea, é a razão da desordem ecológica e moral de nossa raça.
             Se bem observarmos, as crianças, pelo menos àquelas ainda não contaminadas por pais negligentes, permissivos ou perversos, possuem em sua essência a afabilidade, a confiança no próximo, a ausência de maldade, artimanha ou subterfúgios, a sensibilidade na percepção do outro, seja no cuidado ou na solidariedade.
             Junte algumas crianças de mesma faixa etária e deixe-as livres. A amizade brotará fácil como grão em chuva. A disputa de espaço, quando há, se dar por reprodução de atitudes geralmente observadas nos seus cuidadores.
             A criança não aprende somente com palavras; mas principalmente pela observação dos gestos e comportamentos dos adultos que as rodeiam. O pequeno aprende com o exemplo.
             Assistindo o espetáculo da cantora Maria Rita em homenagem a sua mãe Elis, deparamo-nos com a prática sobre a teoria interessante de Belchior, na qual sugere que mesmo a despeito de todos os nossos esforços e estímulos do mundo, reproduzimos o que vemos em nosso lar. O que vemos nossos pais, nossas fôrmas fazerem.
            Então o que dizer de uma família com dois ou mais filhos? Sabidamente as personalidades são diferentes. Sim são diferentes por que cada um captou, sintonizou ou simplesmente foi tocado por uma fatia também diferente de todo o espectro de atitudes, emoções e regras cotidianas apresentadas pelos adultos que mais convivem. Não se pode esquecer, nem tão pouco, desmerecer o papel da escola e dos grupos sociais nesse contexto, porém sua abrangência é principalmente na esfera superficial, agindo de forma limitada sobre a essência.
             De outra forma, ser adulto é na maioria das vezes enfadonho, cansativo, sem muita graça. É cinzento. O homem adulto se torna sem brilho quando a ele é apresentado à noção de dinheiro, do ter e do que isso pode fazer com sua vida.
            É apresentada uma falsa ideia, ao jovem e assumida pelo adulto, que felicidade só poderá ser encontrada e será diretamente proporcional ao montante de moedas e de poder que acumular. É imposto a esse adulto uma perversa corrida pelo acúmulo de bens, pela obrigatoriedade a uma posição social de destaque, ou então, condenado está a ser um mero "cidadão comum".
            Essa ideia doentia disseminada pelos tempos e gerações chega ao inconsciente coletivo gerando uma legião de almas perdidas em busca do nada ou do sei lá o que?
             Nessa busca sem fim, afogam-se em vícios lícitos como o trabalho exagerado, o álcool, o fumo, os ansiolíticos e antidepressivos; enquanto outros, caem na contravenção ou perversão. São os doentes de alma socialmente saudáveis e, por vezes, bem sucedidos.
             Se paga um preço muito caro pela perda da ingenuidade. Homens e mulheres mutilados de sua pureza e inteligência emocional e espiritual, amargam o purgatório da falsa felicidade do glamour. A busca incessante por algo que não possuem, por imaginar que será bom, até possuí-lo e não lhe satisfazer mais, alimenta o adulto de vazio.
             Há poucos dias morria o humorista cearense Chico Anísio e de si fizeram cinzas, as quais foram distribuídas entre dois lugares onde ele teria sido mais feliz. Um deles era sua terra natal que representava sua infância, sua fonte de vida, sua fortaleza, dentre tantos lugares festivos e "chiques" que frequentou e conviveu.
             Acredito plenamente que a maneira de se encontrar alguma lucidez nesse picadeiro que é o mundo, onde não passamos de palhaços tristes, é procurar promover um reencontro com a criança que fomos. Trazer para o cotidiano e para as relações a liberdade do menino, da menina, juntamente com sua espontaneidade e capacidade de dar gargalhadas, chorar quando doer, ser breve em esquecer as quedas e as amarguras, dar pulos em calçada quadriculada, cantarolar sem propósito somente pelo fato de estar vivo, com saúde e possibilidades a explorar, sem preocupação com os olhares e/ou julgamentos alheios.
             Temos que rir mais e percebermos que é inteligente sermos gentis, buscar um equilíbrio entre trabalho e lazer, usar terno e andar descalço, correr no sol e banhar-se na chuva, ser firme em seus propósitos e nunca perverso, ser competitivo, sendo também leal, ter posses e não ser avarento, ter poder e não ser tirano, gostar do azul, mas respeitando quem prefere o vermelho.
             Ao invés de sermos adultos por que não brincamos de sermos adultos?
Júlio Lima
Médico/ Professor

terça-feira, 6 de março de 2012

Aspéctos Clínicos nas Amputações de Membros Inferiores


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Reabilitar Ottobock

Pessoal, segue a programação do REABILITAR um encontro científico muito interessante. Todos estão convidados. Estarei presente com o tema: Aspectos Clínicos nos pacientes amputados de membros inferiores.
Encontro vocês lá!!!



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Os cavaleiros templários

Quero compartilhar com vocês um documentário realizado pela National Geographic sobre uma das ordens religiosas mais interessantes que já existiu e que ainda paira muitos mistérios e incertezas sobre ela: A ordem dos cavaleiros templários.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

NOVA ORDEM


          O capitalismo é o sistema econômico dominante no mundo ocidental desde o final do feudalismo. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo). O termo capitalismo foi criado e utilizado por socialistas e anarquistas (Karl Marx, Proudhon, Sombart) no final do século XIX e no início do século XX, para identificar o sistema político- econômico existente na sociedade ocidental quando se referiam a ele em suas críticas, porém, o nome dado pelos idealizadores do sistema político-econômico ocidental, os britânicos John Locke e Adam Smith, dentre outros, já desde o início do século XIX, é liberalismo. (LIBERALISMO CLÁSSICO: ORIGENS HISTÓRICAS E FUNDAMENTOS BÁSICOS - UNICAMP, Por Michelle Fernandes Lima; Alessandra Wihby; Neide de Almeida Lança Galvão Favaro)

            O liberalismo se sustenta pela idéia da escassez. O pleno, o satisfatório, o suficiente são projeções que não interessam aos ideais capitalistas. Dessa forma, ele nos sufoca, asfixia-nos, toma-nos o tempo para que não possamos ter discernimento e apenas sejamos meros objetos de trabalho e de consumo.

            Assistimos impotentes, a tomada do planeta pelas grandes corporações financeiras que têm deixado governos reféns e cidadãos doentes. O câncer, a depressão, o diabetes são algumas patologias que possuem suas bases nas frustrações humanas. Você só vale o que pode consumir. Nada mais.

            Querem transferir ao cidadão comum a responsabilidade dos desastres naturais por precedente destruição da vida não humana na terra. Insistem em intuir a idéia que você deve jogar seu resíduo plástico em depósito apropriado e tomar banho com menos água para salvar o planeta das intempéries e desastres naturais quando eles continuam despejando produtos químicos nos mares e rios em volume exorbitante. Devastam reservas florestais urbanas dizimando o que lá vive e existe para construção de “casas de pombos” com área de lazer completa. Modificam geneticamente alimentos para aumentar produção. Utilizam, sem data para acabar, energia fóssil em suas desventuras gananciosas.

            O universo caminha para uma entropia. Nós marchamos rumo a autodestruição por mesquinhez insana e adoração ao dinheiro dos que estão assumindo o poder do mundo como foram todos que os assumiram até hoje.

            Como diz minha amiga Danny sírio “ ... mesmo havendo conhecimento de que no final de tudo não leva a nada, mesmo assim são danadamente desesperados”. Esse desespero pelo poder, pelo controle, pela mais valia, pelo sei lá o quê?

            A humanidade vive uma corrida alucinada, porém sem rumo. Somos como uma manada transloucada sem direção ou sentido, onde alguns poucos bossais fazem jogatina nas bolsas de todo o mundo.

            Servimos apenas de peças em um grande jogo, onde a sua, a minha, a vida de todos está à mercê de um lance, uma jogada de ficha.

            Enquanto poucos se divertem nessa mesa de jogo sem propósito ou fim, a maioria cá na base se mantém areado sobre quem dar o ritmo da música que estão dançando.

O analista econômico vai à rádio e TV tentando adivinhar a próxima cartada dos bossais. Os políticos procuram uma maneira de, sufocando o sujeito da “ralé” minguando-se salários e serviços, garantir seu caixa dois para próxima campanha eleitoral, mas sempre encontrando um tempinho para dar àquela lambidinha no saco escrotal do sujeito que lhe financiou o pleito e utilizando-se da velha máxima: massacrando os pequenos e amiudando-se aos grandes. O advogado tenta ao seu modo servir quem lhe der mais. O juiz, ah! Esse quer férias, pois se sente muito cansado de tanto trabalho e responsabilidade. Os padres, depois que perderam prestígio social, lavaram suas mãos. Os pastores estão mais preocupados com os dízimos. Os médicos, ora, esses estão de plantão, não sabem de nada do que está acontecendo no mundo e quando tem algum tempo correm para se escravizarem em algum financiamento de mármore ou automotor numa disputa com os demais que também nada sabem além de sua sub-especialidade. E o restante? Peças, peças e mais peças. O poeta sonha; o operário bate ponto; o jovem tá bombando em alguma rave ou rede social; o soldado prende; o ladrão furta; o bandido mata e o dia não acaba mais por que a noite é criança. A vida passa, os homens passam.

            Claro que em todas essas categorias citadas e nas demais existentes há pessoas indignadas e inquietas que nadam contra a corrente e maré bravia que não entregam os pontos e que buscam vida além do poder e do metal.

            Falo do liberalismo por que é o sistema que está no comando de nossas vidas, no entanto, dentre os que existem não vejo alternativa que se apresente de forma mais justa. Com certeza, o totalitarismo e a situação de exceção e falta de liberdade da China e Cuba não constituem em mínimos parâmetros para que possam entrar nessa discussão. Certo é que o que queremos ainda não existe na prática, se não, nas mentes de alguns poucos visionários.

            E assim, marchamos matando Cristo na Páscoa e festejando seu nascimento no natal, renovando esperanças e sonhos a cada volta da terra em todo do astro rei.

            Possuímos uma vista curta para enxergarmos além do óbvio, uma mente preguiçosa demais para analisarmos a realidade em que vivemos e pernas muito pequenas que limitam nossa marcha enquanto humanidade.

            Confesso senhores, que mesmo com algumas divagações e outras contestações não sei como quebrar a corrente da ignorância, da subserviência, da aceitação do status quo me imposto nesse cenário.

            Sei apenas que me inquieto, como muitos, e assim sendo não paro, não me acomodo, não abro mão da esperança. Quero deixar de ser pedra para me tornar água.

Júlio Lima

Médico/Professor

           




terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fêmur Curto Congênito - Caso Clínico

sábado, 10 de dezembro de 2011

Mané Cabelim

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Programa de Graça araújo : Como tratar a dor

amigos, segunda-feira - dia 28, participei no programa: Consultório da Graça na rádio jornal. Um debate sobre tratamento da dor. Vejam o áudio: