quarta-feira, 19 de outubro de 2011

QUEM É O CORRUPTO?


Ultimamente, folheando jornais, revistas, vendo sites, recebendo mensagens eletrônicas tenho me deparado com constantes notícias de suspeita ou deflagração de corrupção. É o executivo que “nunca sabe de nada”. O legislativo que se aglutina e se emuralha na defesa dos iguais, Jaqueline Roriz, mensaleiros e, nessa semana, Valdemar Costa Neto, que o digam. Judiciário que causa câimbra no braço daquela coitada cega e surda colocando pesos e medidas diferentes entre quem é da “côrte” e usa bens públicos de forma privada, como Sarney; e um Silva ou Souza qualquer povim. Nesses últimos, baixa o chicote e bate mais nêgo que é pouco, mostrando toda autoridade e arrogância da magistratura.
Mas, espere um pouco, encerra-se aí nossa majestosa gama de corruptos? Se livrando dessa corja, estamos livres dessa famigerada miséria humana?
Pois bem, gostaria que meu ilustre leitor (obrigado por está dedicando seu tempo a mim) me ajudasse a detectar quem é o corrupto? E uma vez fazendo-o, dê sua colaboração para solucionarmos esse câncer nacional. Seja refletindo, seja multiplicando atos positivos, seja começando em casa, educando os seus.
Na escola, ainda cedo, não sei se ainda é assim, quando iniciávamos o estudo da história de nossa brava gente brasileira nos era informada que somos frutos do refugo, do bagaço, do resto que não prestava na Europa. Bandidos, degredados filhos de Eva, porcos mal-educados, que aqui chegando se junta a um bando de nativo preguiçoso que só queria viver de sombra e água fresca, acrescentando-se aí os “sem almas” animalizados como força motriz de trabalho, vindos da África.
Criava-se ali a nossa identidade nacional como povo, raça mestiça, para alguns, bando de pés-duros, para outros.
Quem chegou aqui do continente velho, veio para saquear, enriquecer e deixar para trás as sobras, a esmola, a miséria. Mas mesmo assim, o “negócio” se sustenta, equilibra-se na corda bamba e se cria como uma nação.
Honestidade ou a falta dela estará impregnada no DNA?  Estará aí a explicação dessa variedade de tipos de ética e corrupção?
Semana passada, feriado de 12 de Outubro, houve em várias cidades a marcha contra a corrupção.  A revolta estava direcionada aos que estão estampados nos meios de comunicação, os que se têm holofotes sobre si, ou seja, nossos inestimáveis representantes dos três poderes.
Será corrupção ultrapassar pelo acostamento, quando existe uma fila quilométrica de carros numa auto-estrada? Será corrupção valer-se ou esperar que colegas em uma repartição lhe dêem preferência em detrimento a quem chegou cedo e aguarda a horas? Será corrupção enfiar meu “pen drive” no computador da repartição para imprimir documentos particulares, uma folhinha que seja? Será corrupção usar a máquina de Xerox do trabalho para copiar um trabalho ou livreto do meu filho? Será corrupção não pagarmos os direitos trabalhistas de nossos empregados domésticos, quando exigimos seu recebimento à empresa que trabalhamos? Será corrupção “molhar” a mão do guarda quando flagrados numa infração? Será corrupção comprarmos CD’s , DVD’s, roupas , sapatos, perfumes e “souvenirs” pirateados sob alegativa que não se compra o original por quê o preço é muito alto?
O que é corrupção? Existe o ato mais ou menos corrupto?
Fazer corpo mole em seu emprego sob alegativa de que recebe salários vis ou trabalha em situações insalubres poderia ser classificado com corrupção? Assim como, submeter profissionais qualificados a condições inadequadas e salários vexaminosos, em nome da mais valia, levando o trabalhador a condições, cada vez mais descompensatória, do ponto de vista emocional, não é corrupção?
Meu Deus, quem é o corrupto? Contra quem estamos nos indignando? Ou nossa indignação se faz em benefício próprio? Por que não somos nós que ali estamos?
Lembrando Rui Barbosa que afirmou: De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86), pensemos no que poderemos fazer para evitar que cheguemos a esse estágio a que se refere o ilustre jurista.
Fazer algo é preciso, pois não aceito a idéia de corrupção nata e hereditária. A falta de educação, assim como, a desvalorização daquele que é correto e valoriza o lícito, sendo muitas vezes, vítimas de bulling, para usar termo da moda, deve ser desencentivado, por que não, combatido.
Temos que lutar todos juntos, para realizamos a mudança do paradigma da lei da vantagem para o paradigma da lei da ética, da justiça e da honestidade.
Vamos pluralizar o singular.
Preparar nossas crianças, não para o enfrentamento, para a busca do mercado, do para eu, para mim, por mim;  mas para a cooperação, conduta reta a atos que favoreçam não ao indivíduo, se não, à coletividade que o circunda, beneficiando a todos.
Que tal revermos nossos valores, procurando realizar atitudes pró-ativas, com seriedade, humanismo e amor ao próximo. Entendendo que fazer o correto é mais que uma boa ação. É uma questão de inteligência.
Júlio Lima
Médico/Professor

2 comentários:

  1. Sempre fui da teoria que o grande problema do nosso Brasil infelizmente é o BRASILEIRO...
    Nosso famoso "jeitinho nos trouxe a essa triste realidade em que vivemos hoje...

    PARABÉNS pelo texto e pelo Blog!

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  2. Caro Júlio, a despeito da verborragia ínsita ao desejo de justificar o injustificável, não há necessidade de atos complexos para compreendermos a corrupção como ato de corromper, ou seja, simplesmente tornar-se estragado, apodrecido, deteriorado moral ou fisicamente, transformando-se o original, subornando em função de interesse próprio ou de outrem...
    Ultimada a ponderação sobre tais adjetivos, questionar-se se está ou não imerso em quaisquer das hipóteses.
    Obtido um simples sim, compreender-se na qualidade de corrupto e, pois, desfrutar de todas as benesses ínsitas ao comportamento eleito, máxime quando imerso em cultura leniente como a brasileira, que costuma ovacionar o corrupto e escarnecer o homem justo, probo e usualmente sofrido: o bom trabalhador.
    Reflexão ao passado não longínquo permitirá a compreensão sobre a causa da enfermidade: se do espírito ou simplesmente da falada fase adulta que normalmente aproxima o homem do verme...
    Grande abraço e muito obrigado pela oportunidade de manifestação democrática.

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