quarta-feira, 4 de abril de 2012

O PARADÍGMA HUMANO

              A burrice humana está nas atitudes que invariavelmente chegará ao vazio, à inércia, a depressão, a um fim pouco glamouroso de quem coloca no dinheiro sua razão de viver.
              A cada dia que passa me convenço, cada vez mais, que o grande mau da humanidade é a própria raça humana ou seria, n’um passo à frente do pensamento, o fato do ser humano obrigatoriamente converter-se de criança à adulto.
              Sim, penso que o humano adulto, macho ou fêmea, é a razão da desordem ecológica e moral de nossa raça.
             Se bem observarmos, as crianças, pelo menos àquelas ainda não contaminadas por pais negligentes, permissivos ou perversos, possuem em sua essência a afabilidade, a confiança no próximo, a ausência de maldade, artimanha ou subterfúgios, a sensibilidade na percepção do outro, seja no cuidado ou na solidariedade.
             Junte algumas crianças de mesma faixa etária e deixe-as livres. A amizade brotará fácil como grão em chuva. A disputa de espaço, quando há, se dar por reprodução de atitudes geralmente observadas nos seus cuidadores.
             A criança não aprende somente com palavras; mas principalmente pela observação dos gestos e comportamentos dos adultos que as rodeiam. O pequeno aprende com o exemplo.
             Assistindo o espetáculo da cantora Maria Rita em homenagem a sua mãe Elis, deparamo-nos com a prática sobre a teoria interessante de Belchior, na qual sugere que mesmo a despeito de todos os nossos esforços e estímulos do mundo, reproduzimos o que vemos em nosso lar. O que vemos nossos pais, nossas fôrmas fazerem.
            Então o que dizer de uma família com dois ou mais filhos? Sabidamente as personalidades são diferentes. Sim são diferentes por que cada um captou, sintonizou ou simplesmente foi tocado por uma fatia também diferente de todo o espectro de atitudes, emoções e regras cotidianas apresentadas pelos adultos que mais convivem. Não se pode esquecer, nem tão pouco, desmerecer o papel da escola e dos grupos sociais nesse contexto, porém sua abrangência é principalmente na esfera superficial, agindo de forma limitada sobre a essência.
             De outra forma, ser adulto é na maioria das vezes enfadonho, cansativo, sem muita graça. É cinzento. O homem adulto se torna sem brilho quando a ele é apresentado à noção de dinheiro, do ter e do que isso pode fazer com sua vida.
            É apresentada uma falsa ideia, ao jovem e assumida pelo adulto, que felicidade só poderá ser encontrada e será diretamente proporcional ao montante de moedas e de poder que acumular. É imposto a esse adulto uma perversa corrida pelo acúmulo de bens, pela obrigatoriedade a uma posição social de destaque, ou então, condenado está a ser um mero "cidadão comum".
            Essa ideia doentia disseminada pelos tempos e gerações chega ao inconsciente coletivo gerando uma legião de almas perdidas em busca do nada ou do sei lá o que?
             Nessa busca sem fim, afogam-se em vícios lícitos como o trabalho exagerado, o álcool, o fumo, os ansiolíticos e antidepressivos; enquanto outros, caem na contravenção ou perversão. São os doentes de alma socialmente saudáveis e, por vezes, bem sucedidos.
             Se paga um preço muito caro pela perda da ingenuidade. Homens e mulheres mutilados de sua pureza e inteligência emocional e espiritual, amargam o purgatório da falsa felicidade do glamour. A busca incessante por algo que não possuem, por imaginar que será bom, até possuí-lo e não lhe satisfazer mais, alimenta o adulto de vazio.
             Há poucos dias morria o humorista cearense Chico Anísio e de si fizeram cinzas, as quais foram distribuídas entre dois lugares onde ele teria sido mais feliz. Um deles era sua terra natal que representava sua infância, sua fonte de vida, sua fortaleza, dentre tantos lugares festivos e "chiques" que frequentou e conviveu.
             Acredito plenamente que a maneira de se encontrar alguma lucidez nesse picadeiro que é o mundo, onde não passamos de palhaços tristes, é procurar promover um reencontro com a criança que fomos. Trazer para o cotidiano e para as relações a liberdade do menino, da menina, juntamente com sua espontaneidade e capacidade de dar gargalhadas, chorar quando doer, ser breve em esquecer as quedas e as amarguras, dar pulos em calçada quadriculada, cantarolar sem propósito somente pelo fato de estar vivo, com saúde e possibilidades a explorar, sem preocupação com os olhares e/ou julgamentos alheios.
             Temos que rir mais e percebermos que é inteligente sermos gentis, buscar um equilíbrio entre trabalho e lazer, usar terno e andar descalço, correr no sol e banhar-se na chuva, ser firme em seus propósitos e nunca perverso, ser competitivo, sendo também leal, ter posses e não ser avarento, ter poder e não ser tirano, gostar do azul, mas respeitando quem prefere o vermelho.
             Ao invés de sermos adultos por que não brincamos de sermos adultos?
Júlio Lima
Médico/ Professor

Um comentário:

  1. É isso aí Júlio, devemos ser adultos lúdicos....
    Abração e um Feliz Páscoa!!!

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