O
protótipo do puxa-saco
Estamos mais uma vez
nos aproximando de uma eleição em nosso país. Nesses tempos de euforia civil é
bastante comum vermos acompanhando os candidatos ao pleito maior e aos pretendentes
às cadeiras das câmaras legislativas uma figura emblemática, enigmática, quase
mística, o puxa-saco.
Acredita-se que o termo puxa-saco teve sua origem ainda
no Brasil colônia. Tratava-se de sujeitos que sempre procuravam carregar os
sacos de pano com os pertences de militares do exército, recém-chegados no
lugar, de olho na gorjeta que poderiam receber.
Pois bem, a pesar de estarem mais à vista nessa época do
ano de eleição, indivíduos dessa espécie podem ser encontrados e reconhecidos
em todos os lugares onde a hierarquia esteja presente.
Traçar um perfil desses sujeitos não é tarefa fácil, pois
possuem várias nuances e diferentes representações. Observam-se desde os sujeitos folclóricos subservientes por admiração e amor até àqueles que nutrem raiva e rancor
sobre quem bajulam.
Existem
os mais empolgados, que não se envergonham, mostram-se em qualquer lugar e
ainda levantam bandeira de suas condutas. Alguns gostariam até lançar uma
parada como o dia nacional do orgulho dos puxa-sacos.
Outros por sua vez, absurdamente perniciosos, são enrustidos,
dissimulados, mais camuflados que pebas em buraco e mudam de máscaras a cada
vento ou evento, a cada interesse.
Não podemos, contudo, acreditar que a maioria das
relações onde o quociente de poder esteja presente siga esse modelo. Claro que
há em muitas relações equilíbrio da ligação entre o comandante e o comandado
que, por vezes, atua como amigo e
conselheiro, no entanto, sem abrir mão de suas verdades e convicções e sem
fazer disso uma moeda de troca.
A interseção entre todos os lambe-botas de carteirinha
parece-me ser a pura falta de pensamento e vontade próprios com uma
permissividade canina, acomodando-se falsamente a qualquer situação desde que
se tire dela algum proveito momentâneo ou tardio.
O sujeito bajulador é altamente competitivo. Consome
muita massa cinzenta nas incontáveis tentativas de saber o que poderia agradar
o seu chefe. Se não consegue fazê-lo, ou pior, se alguém o faz mais rápido, ele
chega a angustiar-se, consumir-se, sofrer intensamente. Não por que não agradou
seu superior, mas por que alguém ousou, mesmo não intencionalmente, fazer algo
que ele tanto desejava, antecipadamente a si.
O baba-ovo é antes de tudo um sujeito com parca autoestima.
Àquele explicitamente lisonjeador talvez o seja por excessiva admiração ou por acreditar
ser incapaz de realizar as tarefas que lhe são atribuídas e com medo de perder
seu posto lança-se sem pudor aos pés de quem exerce ou representa poder.
De outra forma, o dissimulado, o mascarado é um elemento
isento de valores morais. Absurdamente ambicioso e que, percebendo-se incompetente,
não exita em gastar seus dias procurando agradar, das mais simples às mais
sórdidas formas, aquele que possua algum atrativo para a conquista de seus
objetivos.
Na verdade há uma proporcionalidade entre o número de
lacaios e de chefes bossais que, sem possuírem luz própria, necessitam desse
tipo de holofotes. Há um verdadeiro comensalismo entre esses seres anômalos.
Existe uma ligação tão intensa de antropofagia energética que ambos criam um
campo magnético que os mantém sempre próximo um do outro. Não há subserviente
sem tirano.
O capacho não mede esforços para agradar seu amo: Mente,
falseia, faz intrigas, apropria-se de ideias alheias, dar gargalhadas das
piadas xenofóbicas, racistas e homofóbicas. Apoia os discursos e pensamentos sem
nexos e, se duvidar, ainda dar uma abanadinha no rabo. Tudo pelo pífio ofício
de agradar seu superior em troca de ambições vis.
O puxa-saco orgulha-se de ser apolítico, pois apoia quem
possa lhe trazer alguma vantagem.
Não
tosse por nenhum time em especial, nem possui religião, não possui uma cor
preferida, nem estilo musical próprio.
É um animal, com perdão aos animais sem querer
ofendê-los, apaixonado pelo dinheiro, sem alma, sem pudor, sem fé. Assemelham-se
às mais peçonhentas serpentes, pois leva a vida rastejando e destilando veneno.
Quando
se encontram numa situação conflituosa, como quando diante de dois
hierarquicamente superiores e discordantes, o cara lisa apenas balança a cabeça
com sinal de concordância e em hipótese nenhuma emite seu parecer.
Esse
tumor social na grande maioria das vezes é absurdamente perverso e debochado
sobre seus subordinados. Possui mórbido prazer diante da dificuldade de um
colega e é incapaz de ajudar alguém que não tenha nada a oferecê-lo.
Um
tipo de xeleléu bastante frequente é o puxa-saco de si mesmo. Esse é terrível,
pois acredita piamente que é a última freira virgem do planeta. Acredita-se o
fodão. Vive gabando-se de seus feitos ou malfeitos; do quanto, à sua vista
curta, é garboso, inteligente, isso e àquilo.
Doutra
maneira, geralmente é solitário, pois seu narcisismo lhe impede de enxergar qualquer
pessoa além de si mesmo. Como afirmou Plutarco, filósofo grego, quem gosta de
bajulação está perdidamente enamorado de si.
O
que nos deixa bastante tristes é que esses indivíduos são altamente viris socialmente,
ocupam postos estratégicos e interferem na vida de muitos. Com seu ardil e
veneno destroem reputações, amores, sonhos, lares, carreiras e amizades.
Assim
como cada veneno há um antídoto, para cada puxa-saco há alguém com luz própria
e fortaleza de espírito.
Acredito
que uma forma eficaz de defender-se desse tipo de verme é ,como aprendi desde
cedo com minha mãe, rezar um credo nas costas do sujeito que queira engoli-lo e
desejar-lhe o bem”.
Pois
sim, a oração e o bem são as vacinas contra os miseráveis de espírito. Por
isso, “ore e vigie”, pois sempre valerá a pena ser coerente com seus
princípios.
A
verdade expressa no verbo e no olhar foi antes construída na alma, por isso,
ouros, pratas, louros e títulos, a pesar de serem muito bons, são antes de
qualquer coisa, vírgulas, e devem ser conquistados com lisura e trabalho.
Escreva
sua história. Honre sua biografia.
Júlio
Lima
Médico/professor
Dr. Júlio, sou sua fã de carteirinha.Você é uma pessoa bem humorada, médico excelente que trata seus pacientes com respeito e dedicação. Admiro e respeito pessoas como você. Um abraço e que Deus continue te iluminando.
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