quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O protótipo do puxa-saco


                                                   O protótipo do puxa-saco

           Estamos mais uma vez nos aproximando de uma eleição em nosso país. Nesses tempos de euforia civil é bastante comum vermos acompanhando os candidatos ao pleito maior e aos pretendentes às cadeiras das câmaras legislativas uma figura emblemática, enigmática, quase mística, o puxa-saco.
            Acredita-se que o termo puxa-saco teve sua origem ainda no Brasil colônia. Tratava-se de sujeitos que sempre procuravam carregar os sacos de pano com os pertences de militares do exército, recém-chegados no lugar, de olho na gorjeta que poderiam receber.
            Pois bem, a pesar de estarem mais à vista nessa época do ano de eleição, indivíduos dessa espécie podem ser encontrados e reconhecidos em todos os lugares onde a hierarquia esteja presente.
            Traçar um perfil desses sujeitos não é tarefa fácil, pois possuem várias nuances e diferentes representações. Observam-se desde os sujeitos folclóricos subservientes por admiração e amor até àqueles que nutrem raiva e rancor sobre quem bajulam.
Existem os mais empolgados, que não se envergonham, mostram-se em qualquer lugar e ainda levantam bandeira de suas condutas. Alguns gostariam até lançar uma parada como o dia nacional do orgulho dos puxa-sacos.
            Outros por sua vez, absurdamente perniciosos, são enrustidos, dissimulados, mais camuflados que pebas em buraco e mudam de máscaras a cada vento ou evento, a cada interesse.
            Não podemos, contudo, acreditar que a maioria das relações onde o quociente de poder esteja presente siga esse modelo. Claro que há em muitas relações equilíbrio da ligação entre o comandante e o comandado que, por vezes,  atua como amigo e conselheiro, no entanto, sem abrir mão de suas verdades e convicções e sem fazer disso uma moeda de troca.
            A interseção entre todos os lambe-botas de carteirinha parece-me ser a pura falta de pensamento e vontade próprios com uma permissividade canina, acomodando-se falsamente a qualquer situação desde que se tire dela algum proveito momentâneo ou tardio.
            O sujeito bajulador é altamente competitivo. Consome muita massa cinzenta nas incontáveis tentativas de saber o que poderia agradar o seu chefe. Se não consegue fazê-lo, ou pior, se alguém o faz mais rápido, ele chega a angustiar-se, consumir-se, sofrer intensamente. Não por que não agradou seu superior, mas por que alguém ousou, mesmo não intencionalmente, fazer algo que ele tanto desejava, antecipadamente a si.
            O baba-ovo é antes de tudo um sujeito com parca autoestima. Àquele explicitamente lisonjeador talvez o seja por excessiva admiração ou por acreditar ser incapaz de realizar as tarefas que lhe são atribuídas e com medo de perder seu posto lança-se sem pudor aos pés de quem exerce ou representa poder.
            De outra forma, o dissimulado, o mascarado é um elemento isento de valores morais. Absurdamente ambicioso e que, percebendo-se incompetente, não exita em gastar seus dias procurando agradar, das mais simples às mais sórdidas formas, aquele que possua algum atrativo para a conquista de seus objetivos.
            Na verdade há uma proporcionalidade entre o número de lacaios e de chefes bossais que, sem possuírem luz própria, necessitam desse tipo de holofotes. Há um verdadeiro comensalismo entre esses seres anômalos. Existe uma ligação tão intensa de antropofagia energética que ambos criam um campo magnético que os mantém sempre próximo um do outro. Não há subserviente sem tirano.
            O capacho não mede esforços para agradar seu amo: Mente, falseia, faz intrigas, apropria-se de ideias alheias, dar gargalhadas das piadas xenofóbicas, racistas e homofóbicas. Apoia os discursos e pensamentos sem nexos e, se duvidar, ainda dar uma abanadinha no rabo. Tudo pelo pífio ofício de agradar seu superior em troca de ambições vis.
            O puxa-saco orgulha-se de ser apolítico, pois apoia quem possa lhe trazer alguma vantagem.
Não tosse por nenhum time em especial, nem possui religião, não possui uma cor preferida, nem estilo musical próprio.
 É um animal, com perdão aos animais sem querer ofendê-los, apaixonado pelo dinheiro, sem alma, sem pudor, sem fé. Assemelham-se às mais peçonhentas serpentes, pois leva a vida rastejando e destilando veneno.
Quando se encontram numa situação conflituosa, como quando diante de dois hierarquicamente superiores e discordantes, o cara lisa apenas balança a cabeça com sinal de concordância e em hipótese nenhuma emite seu parecer.
Esse tumor social na grande maioria das vezes é absurdamente perverso e debochado sobre seus subordinados. Possui mórbido prazer diante da dificuldade de um colega e é incapaz de ajudar alguém que não tenha nada a oferecê-lo.
Um tipo de xeleléu bastante frequente é o puxa-saco de si mesmo. Esse é terrível, pois acredita piamente que é a última freira virgem do planeta. Acredita-se o fodão. Vive gabando-se de seus feitos ou malfeitos; do quanto, à sua vista curta, é garboso, inteligente, isso e àquilo.
Doutra maneira, geralmente é solitário, pois seu narcisismo lhe impede de enxergar qualquer pessoa além de si mesmo. Como afirmou Plutarco, filósofo grego, quem gosta de bajulação está perdidamente enamorado de si.
O que nos deixa bastante tristes é que esses indivíduos são altamente viris socialmente, ocupam postos estratégicos e interferem na vida de muitos. Com seu ardil e veneno destroem reputações, amores, sonhos, lares, carreiras e amizades.
Assim como cada veneno há um antídoto, para cada puxa-saco há alguém com luz própria e fortaleza de espírito.
Acredito que uma forma eficaz de defender-se desse tipo de verme é ,como aprendi desde cedo com minha mãe, rezar um credo nas costas do sujeito que queira engoli-lo e desejar-lhe o bem”.
Pois sim, a oração e o bem são as vacinas contra os miseráveis de espírito. Por isso, “ore e vigie”, pois sempre valerá a pena ser coerente com seus princípios.
A verdade expressa no verbo e no olhar foi antes construída na alma, por isso, ouros, pratas, louros e títulos, a pesar de serem muito bons, são antes de qualquer coisa, vírgulas, e devem ser conquistados com lisura e trabalho.
Escreva sua história. Honre sua biografia.
Júlio Lima
Médico/professor



               
       

Um comentário:

  1. Dr. Júlio, sou sua fã de carteirinha.Você é uma pessoa bem humorada, médico excelente que trata seus pacientes com respeito e dedicação. Admiro e respeito pessoas como você. Um abraço e que Deus continue te iluminando.

    ResponderExcluir